Título: Produtor ameaça impedir o abate
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2005, Economia & Negócios, p. B6

Fazendeiros enfrentam efeitos econômicos de 9 dias de embargo e já discutem ações radicais contra o governo

Duzentos produtores rurais de Japorã fizeram ontem no trevo de acesso ao município uma reunião para discutir como vão agir quando a Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro) chegar para iniciar o abate do rebanho infectado. O encontro serviu para os moradores da cidade marcarem posição. Num discurso inflamado, o ex-prefeito de Japorã, Sebastião de Souza, provocou aplausos ao dizer que sem um acordo formal entre produtores e governo 'todos irão para a frente das fazendas e dos sítios impedir qualquer abate'. Um dia antes, Souza, em tom mais ameno, afirmava que a decisão de exigir do governo acordos antes do sacrifício do rebanho tinha o objetivo apenas de abrir discussão com o governo do Estado.

No encontro de ontem, sobraram dúvidas entre os produtores sobre a real situação. Eles enfrentam os primeiros efeitos econômicos após 9 dias de embargo. Nenhum animal pode ser vendido e nenhum litro de leite entregue nos dois laticínios da cidade.

A pecuária é a base econômica do município. Por mês, são vendidos cerca de 2,6 mil animais para abate, o que resulta numa renda de R$ 1,8 milhão. Os efeitos são ainda mais dramáticos para os pequenos produtores de leite, muitos em zonas de assentamento, onde há suspeitas de contaminação do rebanho pelo vírus da aftosa. A cada mês, a receita com a venda do leite rendia cerca de R$ 150 mil. Por dia, são produzidos 10,5 mil litros. A maior parte é para alimentar porcos, cachorros e até os bezerros, já desmamados.

Há ainda a produção local de queijo, mas as sobras são grandes. É o caso de Valdomiro José da Silva, 62 anos, do assentamento Roseli Nunes. Os 10 litros de leite que vendia ao laticínio rendiam R$ 3,50 por dia. 'Dinheiro que me ajudava a pagar luz, água. Tá difícil viver sem esse dinheirinho', lamenta. Com 22 animais, parte ainda sendo paga ao banco, Silva nem quer ouvir falar em matar os animais: 'Rapaz, é como matar a família da gente'.

Silva afirma que fez a vacinação do pequeno rebanho. 'Não preciso mentir. Conto a verdade para não merecer castigo. Vacino o gado sempre', afirma.