Título: Valor real dos salários cai 11% em sete anos
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

Recuo entre 1996 e 2003 é resultado das mudanças nas empresas formalmente constituídas; únicos setores com alta real foram administração pública e construção

Com 29%, SP ainda tem mais empresas

CONCENTRAÇÃO: Em 2003, o Sudeste concentrava 52% dos estabelecimentos do País, posição hegemônica mas inferior a 1996 (57%). No caso de São Paulo, o Estado concentrava 29% dos estabelecimentos, de longe o maior porcentual estadual do País, mas perdeu pontos ante 1996 (32%). Em relação ao pessoal assalariado, a participação do Sudeste permaneceu elevada em 2003 (57%), mas inferior a 1996 (60%), assim como ocorreu em São Paulo, cuja participação caiu de 36,5% para 34%, especialmente por causa da indústria. Ainda no caso dos assalariados, Minas (10,3% para 10,6%) e Espírito Santo (1,8% para 2,0%) elevaram as participações, mas não o suficiente para compensar as quedas em São Paulo e no Rio.

O valor médio real dos salários pagos nas empresas brasileiras caiu 11% entre 1996 e 2003, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em sete anos, o recuo dos salários marcou as alterações nas empresas formalmente constituídas no País, que aprofundaram também o processo de terceirização no período. Enquanto caiu a participação da indústria no volume de salários pagos, as empresas de prestação de serviços elevaram sua fatia.

A pesquisa do IBGE mostrou que, em termos reais (descontada a inflação medida pelo IPCA no período), o salário médio atingiu R$ 525,29 em 2003, ante R$ 590 em 1996. Os únicos segmentos pesquisados que tiveram aumento de salários em termos reais no período foram administração pública (22%) e construção (33%). Na indústria de transformação, houve queda de 9%.

A coordenadora do estudo, Denise Guichard, sublinhou que os salários caíram em todos os setores pesquisados, mas a queda de 11% deveu-se especialmente às empresas com mais de 100 pessoas. Foram pesquisadas 1,5 milhão de empresas. As demais 3,2 milhões de empresas do cadastro do IBGE não são empregadoras, possuem apenas sócios-proprietários.

Os maiores salários médios estiveram no setor de intermediação financeira, seguros e previdência complementar (R$ 1.627 em 1996 e R$ 1.438 em 2003, recuo de 12%). Os menores salários foram pagos por atividades de pesca (R$ 313 em 1996 e R$ 235 em 2003, queda de 25%), alojamento e alimentação (inalterado em termos reais em R$ 254 nos anos pesquisados).

TERCEIRIZAÇÃO

Segundo Denise, as grandes empresas estão trabalhando com estrutura mais enxuta e tentam manter só funcionários essenciais à produção, terceirizando atividades quando possível. O processo de terceirização fez com que, de 1996 a 2003, a participação relativa da indústria de transformação no número de empregados assalariados tenha caído de 32,6% em 1996 para 29,9% em 2003, e a participação das atividades imobiliárias, de aluguel e serviços prestados às empresas cresceu de 10,4% para 13%.

O aumento ocorreu especialmente em atividades voltadas à prestação de serviços, como imunização, higienização e limpeza em domicílios; seleção, agenciamento e locação de mão-de-obra e outras atividades de apoio operacional. Entre as empresas com mais de 100 empregados, diz Denise, todas perderam participação no volume total de salários de 1996 a 2003, exceto atividades imobiliárias, aluguel e serviços prestados às empresas, que aumentou a participação em 2,1 ponto porcentual.