Título: Ministros do Supremo criticam atuação de Jobim
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2005, Nacional, p. A4

O desempenho do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, durante a sessão em que foi rejeitado pedido de liminar do deputado José Dirceu (PT-SP) provocou contrariedade nos demais ministros da corte. "Ele se excedeu mais do que o normal", disse ontem um dos mais experientes integrantes do STF, resumindo o estado de espírito no tribunal, no dia seguinte ao julgamento. Além de ter espantado os cidadãos comuns que assistiram ao julgamento, a atuação de Jobim causou estranheza no próprio STF. "Ele demonstrou claramente o inconformismo com a decisão. Acho que esperava que a tese de Dirceu fosse acolhida", afirmou um integrante do tribunal. Um dos três ministros do STF a votar a favor de Dirceu, Jobim atuou durante o julgamento como um advogado de defesa do ex-ministro da Casa Civil, interrompendo os juízes que se manifestavam contra as pretensões do deputado.

Uma das piores intervenções de Jobim, na opinião de colegas, foi quando o presidente do STF disse que a decisão do tribunal estava dando poderes excessivos ao Congresso e que poderia servir de base para que o Senado destitua ministros do Supremo.

Segundo integrantes do tribunal ouvidos pela reportagem, esse poder do Senado existe desde a Constituição de 1891. "A afirmação foi de clara desconfiança com relação ao Senado, como se o Senado fosse levianamente destituir ministros do STF", comentou um colega de Jobim para quem a análise do presidente do Supremo foi "terrorismo puro".

Outro momento que provocou muitos comentários no STF ocorreu quando Carlos Ayres Britto disse durante o julgamento que a rejeição do pedido de Dirceu poderia ser uma medida capaz de fazer com que os congressistas que assumam postos no Ministério pensem melhor antes de agir. Jobim comparou esse raciocínio ao da velha UDN, partido de oposição ao ex-presidente Getúlio Vargas. "Essa é uma leitura udenista da decisão. Sei que o senhor não é udenista, mas foi o udenismo que levou ao suicídio de Vargas", afirmou Jobim. "O que tem a ver o caso do José Dirceu com o do Getúlio?", questionou um ministro. "Nada. Ele está fazendo paradigma", concluiu.