Título: Izar vê conspiração para atrasar julgamentos
Autor: Denise Madueño e João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2005, Nacional, p. A5

O presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), acusou ontem a existência de uma "inequívoca conspiração" de alguns deputados para atrasar os julgamentos dos parlamentares acusados de envolvimento em suposto esquema de mensalão, em um movimento de sucessivas manobras regimentais. A nota de Izar foi divulgada após decisão do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), de adiar votação do processo de cassação de José Dirceu (PT-SP). "Existe uma inequívoca conspiração envolvendo alguns deputados, objetivando protelar o julgamento de ações atentatórias ao decoro parlamentar", diz Izar. Ao ter conhecimento da nota, Rebelo afirmou que Izar é o presidente do Conselho e que tem o "direito democrático" de fazer as declarações que quiser.

Dirceu criticou a afirmação de Izar que há "inequívoca conspiração". Em nota intitulada "A pressa é inimiga da perfeição", Dirceu afirma que Izar deveria ser o primeiro a zelar pelo cumprimento das normas que determinam o andamento dos processos jurídicos.

"Mas o comportamento açodado dele (Izar) como condutor dos processos disciplinares contra deputados pode comprometer a legitimidade das eventuais punições", diz o ex-ministro. "Já dizia o ditado popular que a pressa é inimiga da perfeição. Ao optar pelo calendário e a angústia da imprensa, o presidente do Conselho de Ética pode atropelar normas fundamentais do Direito, que podem ser questionadas em foros apropriados, tendo como resultado o prejuízo dos trabalhos, com anulação de decisões."

A nota de Izar provocou ainda protestos da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), aliada e a principal defensora de Dirceu no Conselho de Ética. "Estou me sentindo ofendida, porque a imprensa está colocando que eu estou usando de manobras regimentais", disse a deputada, que pediu vistas do processo.

Antes de divulgar a nota, Izar já havia feito apelo para que "deixem o Conselho trabalhar". Na nota, Izar cita duas ações que seriam para adiar os julgamentos. A primeiro é o parecer do deputado Darci Coelho (PP-TO) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que pede o arquivamento do processo contra Dirceu e que ainda será votado. A segunda foi o questionamento do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) à Mesa da Casa para cancelar a reunião de terça-feira e que provocou a anulação de parte da sessão, "obrigando o colegiado a definir novos calendários". Izar promete na nota uma "reação enérgica" do Conselho para cada tentativa de protelar os trabalhos. Afirmou ainda que vai trabalhar rapidamente para concluir os processos até o dia 20 de dezembro.