Título: 'Eu estava marcado para morrer'
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2005, Nacional, p. A6

O deputado José Dirceu (PT-SP) usa todas as brechas possíveis para dar sobrevida a seu mandato. "É um direito líquido e certo que eu tenho", disse ele ontem à noite, ao ser questionado por que insiste em tantos recursos, em todas as instâncias. "Na situação em que estou, um dia para mim é muito para provar a minha inocência." A estratégia de Dirceu é visivelmente oposta à adotada pelo Palácio do Planalto. Tanto que ele foi ontem se queixar com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Diz não esperar ajuda nem do Planalto nem do PT, mas acha que tanto o governo como políticos importantes do partido - caso de Mercadante e do presidente interino da sigla, Tarso Genro - deveriam respeitar seu direito à defesa, em vez de pedirem sua cabeça.

No diagnóstico do governo, porém, a crise política somente acabará quando um "peixe grande" como Dirceu sair de cena. Apesar de não ter dúvidas de que vai para a degola, Dirceu acredita que, adiando ao máximo o julgamento final, ganha tempo para se explicar à sociedade e mostrar que tudo não passa de "perseguição política". Ele rejeita a palavra manobra, usada por adversários.

"Tenho convicção de que não fiz nada de errado. Não há um só parlamentar que possa dizer que eu tratei com ele algo que não fosse do interesse público", insistiu. "A Câmara cassou o deputado Roberto Jefferson porque ele não provou que existia o mensalão. Então, como eu posso ser chefe do mensalão?", pergunta. Se for mesmo cassado, o deputado promete continuar sua peregrinação nos tribunais. "Vou até o fim", jurou.