Título: Mais 10 países vetam carne do Brasil
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

O Ministério da Agricultura confirmou ontem que mais dez países embargaram, total ou parcialmente, a importação de carne brasileira em decorrência do foco de aftosa em Mato Grosso do Sul. Com isso, sobe para 41 o número de países que suspenderam as compras. Agora, a lista inclui Bolívia, Cingapura, Egito, Moçambique, Namíbia, Noruega, Paraguai, Peru, Ucrânia e Uruguai, além dos que decidiram pelo embargo na semana passada: África do Sul, Argentina, Chile, Cuba, Israel, Rússia e os 25 países da União Européia (UE).

Dessa lista, o principal importador de carne bovina é a União Européia, que suspendeu as compras de Mato Grosso do Sul, do Paraná e de São Paulo.

O presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, defendeu que o embargo da UE seja imposto somente a Mato Grosso do Sul. "De forma técnica, não tem por que manter o embargo ao produto de São Paulo e do Paraná", disse.

Outro importante importador, a Rússia, só embargou a carne de Mato Grosso do Sul, o que foi festejado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um gesto de compreensão. Um acordo bilateral permite que, caso surjam focos de aftosa, a Rússia embargue a carne dos Estados limítrofes com aquele onde surgiu a doença.

A Ucrânia bloqueou as carnes de Mato Grosso do Sul e do Paraná. A Noruega inclui São Paulo nessa lista, segundo a Secretaria de Relações Internacionais do ministério.

Na América do Sul, a Argentina limitou as restrições aos animais, carnes, produtos e subprodutos frescos de espécies suscetíveis à aftosa dos municípios da chamada zona-tampão (Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã e Mundo Novo).

No caso do Peru e do Uruguai, a restrição vale para as carnes bovina e suína, produtos e subprodutos de todo o Brasil.

O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Rodrigo Alvim, calcula que o Brasil venda cerca de 2 mil toneladas de leite em pó por mês aos argentinos.

Paraguai e Bolívia suspenderam o comércio de animais suscetíveis à febre aftosa e de produtos e subprodutos de todo Mato Grosso do Sul.

Apesar das restrições, a CNA manteve a expectativa de faturamento de US$ 3 bilhões com as exportações de carne bovina este ano, ante US$ 2,450 bilhões no ano passado.

"Não acredito em prejuízo tão grande. Os frigoríficos exportadores são grandes e têm plantas (unidades de produção) em vários Estados", disse Alvin. "Eles podem abater os animais em Estados livres de restrição e cumprir os contratos de exportação."

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e ex-ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, calcula em 30% o recuo na receita cambial já em outubro.

Nogueira também cobrou do Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa) uma inspeção no rebanho paraguaio. A região em que foram registrados os focos em Mato Grosso do Sul faz fronteira com o Paraguai e há rumores de que os pecuaristas do país vizinho não aceitaram uma investigação nas fazendas da fronteira. "O Panaftosa tem autonomia para fazer a investigação. Ele não vai se não quiser", disse.