Título: Para analistas, embargo a SP é medida protecionista
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2005, Economia & Negócios, p. B3

Vários países estão se aproveitando da febre aftosa para impor medidas protecionistas contra a carne brasileira, afirmam especialistas em economia agrícola. Segundo Rodrigo Lima, pesquisador do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), não existe nenhuma justificativa sanitária para impor embargo sobre a carne exportada de São Paulo ou do Paraná. No entanto, a União Européia, a Noruega e a Ucrânia, além de embargar a carne de Mato Grosso do Sul, onde surgiu o foco de aftosa, resolveram barrar exportações de SP e PR. Cuba, Israel, Uruguai e Peru foram ainda mais longe, barrando a carne de todo o território brasileiro. "Há motivações nitidamente protecionistas de vários países,", diz Lima, que divulgou ontem o estudo "Febre aftosa: impacto sobre as exportações brasileiras de carnes e o contexto mundial das barreiras sanitárias", elaborado em conjunto com Silvia Helena Miranda, professora da Esalq. "Essas medidas são arbitrárias, estão barrando a exportação de regiões que não apresentam riscos."

Segundo Lima, as restrições dos importadores de carne bovina ao produto brasileiro têm sido pautadas mais pela necessidade pontual de carne dos importadores ou questões políticas que pelas regras de sanidade animal definidas pela Organização Mundial de Comércio (OMC) e pelo Escritório Internacional de Epizootias (OIE). Ele cita o exemplo da Rússia que, no ano passado, quando surgiram focos de aftosa no Pará, decretou embargo para a carne de todo o Brasil, apesar de a carne paraense não ser exportada. Agora, suspendeu apenas a importação de Mato Grosso do Sul, onde surgiu o foco.

"O fato é que a Rússia precisa da carne brasileira neste momento, pois outros fornecedores, como a UE, Estados Unidos e Austrália, não estão em condições de atender à demanda russa a preços competitivos." Além disso, a Rússia quer se tornar um membro da OMC e necessita do voto brasileiro.

Marcos Jank, presidente do Icone, acredita que a decisão da UE de incluir São Paulo no embargo foi protecionista. "São Paulo concentra a maior parte dos frigoríficos exportadores, mas está longe dos focos. O objetivo da medida da UE foi atingir o coração da cadeia da carne."