Título: Zona de interdição pode chegar ao Paraguai
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Os técnicos da Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro), a quem está entregue a missão de evitar a proliferação da doença além do perímetro de 25 quilômetros, iniciaram ontem a ampliação da zona de interdição no município de Japorã, a partir dos dois focos de febre aftosa identificados e confirmados do Sítio Santo Antônio e Fazenda Guaíra. Depois de concluir a interdição das propriedades no entorno de 3 quilômetros do foco, agora a Iagro começou a interditar os sítios num raio de 10 quilômetros, o chamado perifoco. A ampliação cria uma demanda para o Itamaraty. Isso porque parte da expansão da área de proibição da movimentação de gado atinge o território paraguaio. A partir da linha de fronteira, a proibição do trânsito de animais depende de acordo entre os governos brasileiro e paraguaio.

A medida faz parte do controle necessário para evitar a migração do vírus para fora da área do foco. Deve vigorar até a Iagro concluir o abate de animais, a criação do vazio sanitário, a colocação de gado sentinela (fraco ou não imunizado, para averiguar se o vírus ainda age no local) e o repovoamento.

A agência havia informado anteontem que o trabalho de abate de 5 mil animais, necessário para restituir a condição de Estado livre da aftosa, deveria ser concluído em até 100 dias. Se houver confirmação de novos focos próximos à fronteira do País, o perímetro de 3 quilômetros no entorno do foco chegará ao Paraguai. O respeito às restrições de movimentação de animais é fundamental para a eficácia do controle sanitário no sul de Mato Grosso do Sul.

OPOSIÇÃO

Contra essa demanda, há uma questão ainda mais séria. É real a possibilidade de os produtores de Japorã resistirem ao abate e controle sanitário. A questão ainda é como o Estado e a União vão indenizar os proprietários de animais. A legislação sobre a operação de controle de doenças desse tipo em rebanhos não prevê indenizações anteriores à eliminação de focos.

Porém, a atitude desafiadora dos produtores impõe exatamente isso. Trata-se de saber como viverão os pequenos pecuaristas que dependem da produção de leite para custear a subsistência.Muitos ainda pagam os animais que podem ser abatidos e devem nos bancos. Além disso, já enfrentam restrição à venda do leite. Com a proibição da movimentação de caminhões de coleta de tambores de leite, eles não têm o que fazer com o produto.

A situação dos produtores será discutida hoje numa audiência pública, em Eldorado. O secretário da produção de Mato Grosso do Sul, Dagoberto Nogueira, terá uma missão importante: convencer os produtores de que o Estado dará suporte financeiro e pagará indenizações.

"Não vou ficar olhando a morte do meu gado, sem ter garantia de que vou receber a indenização. Se me chamarem, irei", disse Marcelo Luiz Chervinski, proprietário rural no assentamento Roseli Nunes, vizinho de propriedade com animais com sintomas da aftosa.

Isac Francelino de Miranda, dono de um sítio de 19,5 hectares no mesmo assentamento, tem posição idêntica. Ontem, Miranda recebeu a notificação da Iagro de que sua área está interditada. "Lei tem de cumprir, mas a única coisa que peço é que as autoridades tenham pena de nós." Miranda produzia 2,1 mil litros de leite por mês. Hoje, joga o produto fora.