Título: França não quer saber de concessões
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2005, Economia & Negócios, p. B11

A França ameaça bloquear as negociações comerciais com a Organização Mundial do Comércio (OMC) utilizando seu direito de veto na União Européia (UE), se o comissário europeu para o Comércio, o britânico Peter Mandelson, continuar ampliando as concessões para os países emergentes , aceitando a redução do nível atual dos subsídios agrícolas. Se tal ameaça se concretizar, a França assumiria isoladamente a responsabilidade por mais um malogro da Rodada Doha, a menos de dois meses da reunião em Hong Kong para aprovar o texto definitivo sobre a liberalização do comércio mundial. Em Paris, setores do Ministério da Agricultura confirmam que vale mais a pena alertar agora do que anunciar o fracasso daqui a dois meses. "A França não pode aceitar que o negociador comunitário evoque, seja qual for a sua forma, as questões agrícolas nas próximas sessões de negociação em Genebra", afirmam. A ameaça francesa foi prontamente respondida pelo presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, afirmando que a UE não pode bloquear as negociações da OMC.

Ontem, também o primeiro ministro francês, Dominique de Villepin, divulgou um comunicado lembrando que a reforma da Política Agrícola Comum (PAC) já reduziu as ajudas diretas aos agricultores, o que constitui o limite do mandato da Comissão. Agora, o país espera avanços no setor de acesso aos mercados. Mandelson afirma que vai formular nova proposta de redução de tarifas alfandegárias no setor agrícola na semana que vem, confiante em que a França tem o apoio de poucos países no bloco.

Mas a oposição francesa coloca o negociador britânico numa situação delicada, apesar de ele contar com o apoio de um outro francês, o atual diretor geral da OMC, Pascal Lamy, para quem "é preciso que os europeus trabalhem duro para melhorar sua oferta de acesso aos mercados agrícolas".

Em contrapartida, diz Lamy, os países em desenvolvimento devem liberar progressivamente as trocas em outras áreas, como produtos industriais e serviços. Essa evolução é mal recebida por alguns países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Isso explica o fato desses países terem decidido que não farão concessão se europeus e americanos não se esforçarem em reduzir tarifas e subsídios agrícolas.