Título: Base brasileira na Antártida tem a primeira grande reforma
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2005, Vida&, p. A23

Marinha liberou R$ 2,7 milhões para a obra da sucateada Estação Comandante Ferraz, instalada em 1984

TV brasileira chega ao continente CONVÊNIO: Em pouco tempo, os cientistas e funcionários que passam meses na Antártida poderão ver programas de TV brasileiros. Hoje só chegam à Estação Comandante Ferraz dois canais chilenos. Toda a comunicação com o Brasil é feita via Chile. Junto com os 22 cientistas que embarcam amanhã no navio Ary Rongel vão equipamentos da Telemar. A empresa tem um convênio com a Marinha que inclui a modernização das comunicações na base.

"Era um grande anseio nosso.Os programas brasileiros são muito melhores", comemora o chefe da base, comandante Bastos, cansado de ver novelas faladas em espanhol.

Além da TV, os brasileiros deixarão de depender da telefonia por satélite do Chile. Há planos para que brevemente o celular brasileiro também chegue à Antártida. Funcionários da empresa viajam em dezembro para instalar os equipamentos. Espera-se que o sistema comece a funcionar em março.

Segundo a Telemar, não é possível estimar o custo do trabalho porque a Marinha já é um "grande cliente".

O Ary Rongel, navio oficial do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), zarpa amanhã do Rio para sua viagem anual ao continente gelado. Os 22 cientistas a bordo, que farão pesquisas ligadas principalmente às mudanças ambientais e climáticas do planeta, encontrarão um gigantesco canteiro de obras.

Os operários da Marinha, na Estação Comandante Ferraz desde o início do mês, são um alento para a ciência nacional. A presença do País na Antártida estava seriamente comprometida por causa da falta de verbas.

Erguida em 1984, a base nunca havia passado por uma grande reforma. Os problemas se acumularam: o piso está cedendo, as paredes estão sendo corroídas pela ferrugem, as duas câmaras frigoríficas são insuficientes, os veículos são danificados pela neve porque não existe garagem, os laboratórios estão obsoletos e o sistema de aquecimento tem sérios defeitos.

Esse sucateamento levou a Marinha a iniciar uma reforma de emergência. Mesmo com o Orçamento apertado, adiantou R$ 1,2 milhão das verbas do ano que vem, que se juntará ao R$ 1,5 milhão deste ano.

Esses R$ 2,7 milhões serão aplicados na primeira fase das obras, que se estenderão até março. Se não começassem agora, só poderiam ocorrer daqui a um ano. O período de trabalhos externos vai de outubro a março, quando o clima é menos frio.

A preocupação com as condições da estação se justifica. A principal condição para que um país se fixe na Antártida é a realização de pesquisas científicas.

O orçamento do Proantar neste ano foi de R$ 3,5 milhões, para infra-estrutura e pesquisas. Para engrossar essa verba "carimbada" do Orçamento federal, a Marinha (que cuida da infra-estrutura) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (responsável pelas pesquisas) são obrigados a tirar dinheiro de suas próprias contas e a firmar convênios, por exemplo, com o Ministério do Meio Ambiente.

A Marinha liberou o dinheiro mesmo não estando o Proantar sob sua responsabilidade exclusiva - é um programa interministerial. Iniciada a obra, a Ciência e Tecnologia acenou com a possibilidade de usar seus fundos setoriais para, a curto prazo, ressarcir a Marinha e, a longo prazo, reforçar as pesquisas.

Apesar de as dificuldades se arrastarem por anos, o aceno foi dado na semana passada. Pesou a pressão das deputadas Maria Helena (PSB-RR) e Ann Pontes (PMDB-PA), da Comissão da Amazônia, que voltaram horrorizadas de uma visita à estação. Em busca de verba, procuraram toda a Esplanada dos Ministérios e até o Planalto.

A expectativa é que a Ciência e Tecnologia libere R$ 10 milhões anuais até 2008. E que, a partir de 2009, com os problemas resolvidos, sejam dados R$ 6 milhões por ano, para manutenção. Além disso, o ministério estuda construir um navio-laboratório, para substituir o desgastado Ary Rongel, cuja manutenção anual custa R$ 2 milhões.