Título: Para família, legista foi vítima de ' alguma coisa muito grave'
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2005, Nacional, p. A13

Ex-mulher e filho de Delmonte não acreditam que ele tenha se matado

A família do legista Carlos Delmonte - que apontou sinais de tortura no cadáver do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel (PT) -, disse ontem à polícia que não acredita na hipótese de suicídio. Delmonte foi encontrado morto na tarde de quarta-feira, dia 12. Sua última missão era um laudo complementar do caso Celso Daniel, documento que o Ministério Público considera essencial para a investigação. Vera, ex-mulher, e Guilherme Capelozzi, filho, contaram que Delmonte, de 55 anos, nunca manifestou intenção de se matar nem apresentava comportamento nesse sentido. "A família acredita que tenha acontecido alguma coisa muito grave com ele, mas não sabe identificar exatamente", informou o promotor Marcelo Millani, designado pela Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar o inquérito policial. Millani ostenta um currículo com 20 anos de Ministério Público, metade da carreira dedicada a processos sobre crimes de morte.

"Se não foi suicídio foi homicídio", anotou o promotor Millani. "Essa é uma ilação minha, ainda não temos elementos concretos para saber se foi suicídio ou se foi homicídio."

Morte natural, a terceira hipótese, está descartada. "A necrópsia teria revelado", declarou Hideaki Kawata, diretor do Instituto Médico Legal (IML), que destacou uma equipe de legistas e patologistas para identificar a causa da morte do colega. "Os exames laboratoriais e microscópicos vão indicar com segurança o que ocorreu com o doutor Delmonte."

Segundo o promotor, Guilherme disse que não acredita em suicídio "porque o pai continuava fazendo planos de vida".O filho de Delmonte relatou: "Meu pai se queixava de que estava doente, com problema pulmonar, com tosse muito aguda. Ele reclamava que estava muito mal e que estava tentando se tratar." O rapaz afirmou que o pai não havia falado sobre ameaças de morte que poderia estar recebendo.

O legista deixou duas cartas. A primeira foi encontrada no dia em que apareceu morto, no escritório particular que mantinha na Vila Mariana. Era um manuscrito para o filho Guilherme, por meio do qual Delmonte pedia providências acerca de seu sepultamento. Não queria velório, queria ser cremado. Para o promotor, isso não significa que Delmonte pretendia se matar. "Eram instruções que sempre passava, ele escreveu a carta com o filho ao lado."

A outra carta foi entregue ontem ao delegado José Antonio do Nascimento, do Departamento de Homicídios, por Luciana Plumari, com quem Delmonte estava casado. Nela, o legista reiterou o desejo de ser cremado e pediu que suas cinzas fossem depositadas ao lado da sepultura do pai de Luciana, Francisco Plumari.

Chico da Ronda, como Francisco era conhecido, era apontado como o maior banqueiro do jogo do bicho da região norte de São Paulo. No ano passado, ele foi emboscado e fuzilado por um bando desconhecido no bairro da Casa Verde.

Luciana conheceu o legista em um curso jurídico onde ele lecionava. O casal vivia uma crise. "Eles estavam estremecidos, cada um morando numa casa", disse o promotor. "Por causa de um fato decorrente de um outro filho dele, com problemas de vício, um assunto familiar que acabou separando Luciana e Delmonte."

Em setembro, depois de fazer um curso da Swat, a superpolícia americana, Delmonte mudou. "A Vera (ex-mulher) contou que de lá para cá ele começou a se sentir mal e teve mudança de comportamento e de saúde. Ela é patologista, sabe que ele não teve morte natural. Isso é um fato consumado.