Título: Tesoureiro admite caixa 2, mas diz que Azeredo não sabia
Autor: João Domingos, Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2005, Nacional, p. A9

Dos R$ 20,1 milhões gastos na campanha do tucano em 1998, R$ 10 milhões vieram de Valério; PSDB declarou R$ 8,5 milhões

Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha do tucano Eduardo Azeredo em 1998, disse ontem à CPI dos Correios que, dos R$ 20,1 milhões gastos nos primeiro e segundo turnos, R$ 11,6 milhões tiveram origem no caixa 2, dos quais R$ 10 milhões saíram das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Foram declarados à Justiça Eleitoral R$ 8,5 milhões. Atual senador e presidente do PSDB, Azeredo era na ocasião governador de Minas e disputava a reeleição. Embora hoje seja inimigo de Azeredo, Mourão disse que ele não sabia que a maior parte do dinheiro de sua campanha tivera origem no caixa 2. Tanto é que, ao apresentar a conta a Azeredo, este, que havia perdido a eleição para Itamar Franco (PMDB), disse que não pagaria nada. Dos R$ 11,6 milhões do caixa 2, a quantia de R$ 1,6 milhão ficou nas costas do próprio Mourão, pois diziam respeito à compra de veículos.

"Terminada eleição, o Valério e eu vivemos o mesmo infortúnio, porque estávamos endividados e não tínhamos a perspectiva de receber o dinheiro", disse. Ele contou que, depois do não-pagamento da dívida, rompeu com Azeredo e saiu do PSDB. A dívida de Valério junto ao Banco Rural foi quitada em 2003, por pouco mais de R$ 2 milhões, segundo o empresário contou à CPI. A diferença, afirmou, foi paga em publicidade.

O ex-tesoureiro admitiu que quem doa dinheiro para campanhas políticas tem outros interesses. "Não conheço nenhum grande doador de campanha que não tenha negócios com o governo. Nunca vi", disse. "Ele (Valério) trabalhou intensamente. Quando Azeredo perdeu, ele perdeu suas contas no governo. Não teve nada durante o governo de Itamar Franco."

Em 2004, Mourão resolveu processar no Supremo Tribunal Federal tanto Eduardo Azeredo quanto seu ex-vice Clésio Andrade (PFL) - hoje vice-governador de Minas - por perdas e danos. Mas em junho retirou a ação. Parlamentares da CPI consideraram essa decisão suspeita. O deputado Carlos Abicalil (PT-MT) chegou a levantar a hipótese de ter havido uma combinação entre Mourão e Azeredo. "Retirei a ação porque ali não era o foro apropriado para ela. Eu a perderia", reagiu. "O senhor não está demorando demais a entrar com nova ação?", insistiu Abicalil. "Esperei 7 anos para pedir a indenização. Posso esperar mais um pouquinho", respondeu Mourão.

Ele contou que o publicitário Duda Mendonça cobrou R$ 4,5 milhões para fazer a campanha de 98. Mas apenas R$ 700 mil foram pagos com dinheiro regular. "Toda a outra parte (R$ 3,8 milhões) saiu do caixa 2, do dinheiro de Valério." Mourão disse ainda que as empresas de Valério distribuíram R$ 1,8 milhão para candidatos a deputado que apoiaram o tucano.