Título: Empréstimos ao PT só foram registrados após escândalo
Autor: Eugênia Lopes, João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2005, Nacional, p. A8

Os empréstimos de R$ 55 milhões que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza fez, no Banco Rural e no BMG, para o PT só foram registrados em 16 de setembro último na Junta Comercial de Minas Gerais e na contabilidade de suas agências de publicidade, a DNA Propaganda e a SMPB. A descoberta foi feita pela Receita Federal, que detectou irregularidades gritantes na contabilidade das duas empresas. Os dados sobre a DNA e a SMPB foram apresentados ontem pelo coordenador geral de fiscalização da Receita, Marcelo Fisch, em reunião reservada com os integrantes da CPI dos Correios. "É um pessoal que joga muito pesado e que se vale sistematicamente da fraude", acentuou o relator da Comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Investigação feita pela Receita Federal detectou que, entre 1999 e 2003, a DNA não apresentou nenhum documento ao Fisco. Os técnicos da Receita já descobriram que a SMPB tem duas contabilidades. E apontaram, ainda, que o livro de registro da movimentação financeira diária da SMPB tem folhas soltas, o que tem dificultado muito as investigações.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios, pretende apresentar um relatório preliminar daqui a duas semanas, com a movimentação financeira de Marcos Valério. "Houve fraude e vou propor o indiciamento de Valério", disse Fruet, que também pretende indiciar o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

IDENTIFICAÇÃO

Além de Marcelo Fisch, da Receita Federal, os integrantes da CPI dos Correios também tiveram uma reunião reservada com o delegado Luiz Flávio Zampronha, da Polícia Federal. O delegado revelou à CPI que os extratos bancários da conta Dusseldorf, de Duda Mendonça, enviados pela promotoria de Nova York, identificam quem depositou dinheiro na conta sediada nas Bahamas.

A promotoria de Nova York não concordou, no entanto, que a quebra do sigilo da conta seja compartilhada com a CPI. Quando depôs à CPI dos Correios, Duda disse ter recebido R$ 10,5 milhões pela campanha do PT em 2002 nesta conta. Os recursos teriam sido depositados por Marcos Valério.

Para negar acesso da CPI à conta, as autoridades americanas alegaram que o pedido dos extratos foi feito pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Através do DRCI, a CPI pedirá agora o compartilhamentos dos dados. O sub-relator Gustavo Fruet deverá ir aos Estados Unidos na semana que vem para negociar a liberação dos documentos para a Comissão. "Vou conversar com a procuradoria sobre esses dados que serão enviados ao Brasil. Já sabemos pela Polícia Federal que são oito caixas de documentos e dois CDs", disse Fruet.