Título: Ribeirão Pires teme perder empregos e receita de fábrica de munição
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2005, Metrópole, p. C1

Com 115.195 habitantes, a cidade de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, tem um motivo econômico para pensar bem na hora de decidir pelo sim ou não no referendo do domingo, sobre a proibição de armas de fogo e munição no Brasil. Há quase 90 anos, a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) montou na cidade a sua primeira fábrica de munição. Hoje o complexo industrial cresceu tanto que a empresa o considera o maior do Hemisfério Sul voltado para a produção de munição. Em Ribeirão Pires funcionam, numa área de 30 mil metros quadrados, a fábrica de munição, o setor de engenharia e a administração da empresa. O complexo emprega 950 pessoas de toda a região e é a maior fonte de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do município - 14,25% do total. "Nessa hora tenho de defender os interesses da cidade. São mais de R$ 800 mil por ano que podemos perder se a fábrica fechar", disse o prefeito de Ribeirão Pires, Clovis Volpi (PV).

A Assessoria de Imprensa da CBC informou que os diretores não vão antecipar, antes da realização do referendo, se as fábricas vão fechar caso o sim vença. Mas Volpi disse ter sido avisado que poderá haver corte de funcionários. "Mesmo se não fechar, a arrecadação de impostos pode cair. E aí alguns projetos sociais poderão ser interrompidos", disse o prefeito. Dos 950 empregados, 70 moram em Ribeirão Pires, segundo ele.

Na Câmara Municipal, as opiniões estão divididas: são 6 a favor do não e 5 em favor do sim. "Também temos de pensar na economia da cidade, mas a minha escolha pelo não é porque acho que, primeiro, tem de desarmar os ladrões", argumentou o presidente da Câmara, Saulo Benevides (PV).

O vereador Edinaldo de Menezes (PDT) tem opinião diferente. "Se o sim vencer, será o primeiro passo para cobrarmos do governo políticas mais eficazes para a segurança." Há oito anos, ele foi ferido por um tiro e, desde então, condena o uso de armas. "Não acredito que tenha algum prejuízo econômico para a cidade, mas é um risco que teremos de correr."

Um pesquisa encomendada pelo jornal Diário do Grande ABC ao Instituto Brasmarket, em 9 de outubro, mostrou que, de todas as cidades da região, Ribeirão Pires foi a com maior índice de pessoas votando pelo não: 30,7%. "Não que eu seja a favor das armas, mas não é certo o cidadão de bem não ter direito de tê-la", disse o gerente de padaria Márcio Parra. Funcionário há 22 anos da CBC, Vanaldo Afonso Carvalho afirma que votaria pelo não mesmo se não trabalhasse na empresa. "Odeio violência, mas ela está cada vez mais perto de nós."

A advogada Sônia Garcia decidiu votar pelo sim. "Eu sou da cultura da paz, já fiz parte de comissões de direitos humanos e não acredito que a arma resolva o problema de segurança."

A CBC também tem instalações em Montenegro (RS). Segundo a empresa, a receita bruta com a venda de munição foi de R$ 223 milhões em 2004. Da produção, 50% é destinada à exportação, 35% a instituições militares e policiais e 15% ao mercado civil. A empresa exporta para 57 países. BR TV Senado vira tribuna do referendo Maioria dos parlamentares defendeu

voto no sim durante os debates de ontem REFERENDO Gilse Guedes

Colaborou: Fabiano Rampazzo BRASÍLIA Às vésperas do referendo, senadores fizeram nos últimos dias uma espécie de campanha em defesa do sim e do não à proibição da venda de armas na TV Senado. Da tribuna, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) disse que votará pelo fim do comércio de armas. "A democracia custa dinheiro. Se o debate fosse acoplado às eleições, não conseguiríamos que a discussão ganhasse mais dimensão. Todos discutem o referendo, nos mercados, nas farmácias, nos bares, e isso é salutar", disse, referindo-se à crítica de que a despesa com o referendo será excessiva.

Aliada da Frente Parlamentar por um Brasil sem Armas, a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) disse, anteontem, que a violência "alimenta-se do direito de armar-se".

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), e o senador Magno Malta (PL-ES) também declaram voto no sim à proibição da venda de armas. "Sou a favor da cultura da paz", afirmou Virgílio. Malta disse ser contra o referendo, mas afirmou que vai votar no sim.

O senador Juvêncio da Fonseca (PSDB-MS) fez um discurso da tribuna acusando a Frente Parlamentar por um Brasil sem Armas de usar estatísticas falsas para conquistar votos. "Estão dizendo que, de cada 170 pessoas que reagem a assaltos, apenas uma é salva. Onde eles arrumaram essa estatística? Numa bola de cristal?" Ele questionou os dados com argumento de que nenhuma pessoa faz queixa na polícia quando consegue dominar ou afugentar um ladrão de sua casa. Disse ainda que se a população disser sim à proibição a criminalidade vai aumentar. "Os bandidos terão a maior tranqüilidade para atacar", declarou.

O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), considerou um absurdo terem sido gastos R$ 500 milhões para a realização do referendo. "Foi um dinheiro público gasto para nada. O governo deveria ter pego esse dinheiro e investido na área de segurança pública", afirmou, em entrevista. Bornhausen declarou que, em protesto à realização da consulta popular, vai votar no não amanhã. "Se o sim ganhar nós não conseguiremos resolver o problema da criminalidade. Os criminosos serão os vencedores", afirmou.

PROPAGANDA

A propaganda eleitoral amanhã é proibida. A panfletagem perto ou distante dos colégios eleitorais é caracterizada como crime pela Justiça Eleitoral e "pode dar cadeia", segundo Luiz Carlos Madeira, advogado e relator das resoluções do referendo. Mas instalar faixas, cartazes, pintar os muros, desde que seja em bens particulares como a própria residência, é permitido. Madeira explica que a propaganda é proibida somente em bens públicos.