Título: Delúbio negocia com PT seu desligamento para evitar expulsão
Autor: Mariana Caetano e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2005, Nacional, p. A4

Pivô do escândalo do mensalão, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares de Castro, telefonou ontem às 17 horas para a direção do partido e disse que entregaria sua carta de desfiliação para não ser expulso, hoje, na reunião do Diretório Nacional. Mais tarde, porém, informado de que, mesmo assim, o presidente interino do partido, Tarso Genro, poria em votação o relatório da Comissão de Ética - apontando sua "gestão temerária" à frente do PT -, Delúbio recuou. "Eu estou fazendo um gesto. Se vocês não querem entender, não vou pedir a desfiliação e vou enfrentar a votação no Diretório", afirmou o ex-tesoureiro a um dirigente do PT. Antes de informar que pediria o desligamento, Delúbio tentara negociar, em vão, uma pena mais branda. Na conversa, pediu para não ser submetido à "execração pública", pois era militante do PT há 25 anos. Mais: alegou que muitos dos que hoje o condenam se beneficiaram dos recursos por ele distribuídos nas campanhas eleitorais.

Para redigir a carta, Delúbio havia cedido aos apelos de vários colegas, inclusive do deputado José Dirceu (PT-SP), ex-chefe da Casa Civil, que combinou com ele os termos do documento.

Ainda hoje, antes do início da reunião, amigos de Delúbio tentarão uma solução negociada. "Se o Delúbio efetivamente mandar a carta de desfiliação, eu vou consultar o Diretório para ver se a maioria quer ou não aprovar o relatório da Comissão de Ética", informou Tarso, à noite.

De qualquer forma, a depuração interna vai parar aí. O PT deve arquivar hoje as investigações sobre os sete parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão. O Campo Majoritário, grupo moderado que dominou o partido nos últimos 10 anos, quer encerrar já o relatório da comissão de sindicância criada para averiguar as responsabilidades dos deputados - entre eles Dirceu e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha - e evitar a abertura de processos na Comissão de Ética.

Ainda sem adesão garantida de parte da esquerda petista, o Campo Majoritário pretende, "na pior das hipóteses", prorrogar os trabalhos da comissão até que sejam concluídos os processos de cassação em andamento no Congresso. A comissão de sindicância é composta exclusivamente por integrantes do Campo, ao qual pertencem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a maioria dos petistas citados no esquema operado por Delúbio e por Valério.

A apresentação do relatório tem sido sucessivamente adiada e a composição já foi alterada uma vez, depois que os representantes da esquerda abandonaram os trabalhos, alegando sonegação de informações. "Essa é uma questão secundária, mas a deliberação é do Diretório Nacional", afirmou o presidente eleito do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), sobre a comissão de sindicância. Berzoini acha que o partido não deve julgar os parlamentares antes de qualquer definição sobre as cassações no Congresso.

A cúpula petista já derrubou três vezes tentativas da esquerda petista de submeter os demais envolvidos à Comissão de Ética. E Raul Pont, segundo colocado na eleição presidencial petista, avisa que vai propor mais uma vez a abertura de processo disciplinar contra os deputados e dirigentes citados. Integrantes do Campo deverão argumentar, então, que o assunto já foi deliberado antes e não pode ser levantado sem fatos novos ou recomendação da sindicância.

Desde o início do escândalo, a Comissão de Ética do PT abriu processo apenas contra Delúbio, e por iniciativa do próprio ex-tesoureiro.