Título: Delúbio recebeu 110 ligações do governo Perillo
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2005, Nacional, p. A6

Dados obtidos pela CPI dos Correios com a quebra de sigilo telefônico de Delúbio Soares apontam que o ex-tesoureiro do PT mantinha um intenso contato com o governo tucano de Goiás. O petista goiano recebeu pelo menos 110 telefonemas de diversos órgãos do governo do Estado, administrado por Marconi Perillo (PSDB) desde 1998. As ligações descobertas pela CPI, às quais o Estado teve acesso, foram feitas num período compreendido entre 2000 e 2003. Ou seja, começaram a ocorrer antes mesmo de o PT alcançar o governo federal com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003. Na relação de ligações, a imensa maioria é recebida por Delúbio. Já foram descobertos 17 telefonemas feitos pela Secretaria-Geral de Gestão (entre 6 de novembro de 2000 e 27 de fevereiro de 2002), 15 pela Secretaria de Cidadania (de 9 de janeiro de 2003 a 2 de abril de 2003), 10 pela Secretaria de Fazenda (entre 21 de setembro de 2001 e 13 de fevereiro de 2003).

Na lista, aparecem outras 13 chamadas feitas pela Secretaria de Segurança Pública e Justiça (entre 9 de outubro de 2000 e 28 de maio de 2002), 5 pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento (de 23 de outubro de 2002 a 17 de janeiro de 2003), 4 pela Secretaria de Saúde (de 11 de fevereiro de 2000 a 29 de novembro do mesmo ano), e 2 pela Secretaria de Indústria e Comércio (ambas em 18 de fevereiro de 2003).

O levantamento mostra ainda telefonemas de gabinetes próximos ao próprio governador. Já apareceram cinco ligações para Delúbio feitas pelo Gabinete Civil de Perillo, no período entre 12 de maio de 2002 e 10 de janeiro de 2003. Outros três telefonemas partiram do Gabinete Militar da governadoria, com duas chamadas sendo registradas em 15 de janeiro de 2003 e outra em 26 de fevereiro do mesmo ano. Órgãos importantes do governo goiano, como a Agência Goiana de Administração e Negócios Públicos, a Agência Goiana de Comunicação e a empresa de Saneamento de Goiás, a Saneago, também registram várias chamadas para Delúbio.

A descoberta dessas ligações só reforça o depoimento prestado por Delúbio ao Ministério Público Estadual de Goiás. Ele provocou surpresa ao afirmar que, apesar de exercer as funções de tesoureiro do PT, também assessorou o governo de Goiás, supostamente atendendo solicitação de Marconi Perillo, procurando conseguir verbas para sua administração.

SEM PAGAMENTO

Segundo o depoimento de Delúbio, o trabalho "consistia em auxiliar o governo daquele Estado na obtenção de verbas para a recuperação de estradas, verbas para a construção de estação de tratamento de esgoto, verbas para a construção do aeroporto Santa Genoveva, entre outras obras das quais não se recorda". O ex-tesoureiro diz ainda que não cobrou nada pela assessoria.

Depois que o conteúdo do depoimento de Delúbio ao MPE foi revelado pelo Jornal Nacional, da TV Globo, na quinta-feira, a assessoria de Marconi Perillo confirmou a informação, mas reafirmou que nada foi pago ao ex-tesoureiro petista pela atividade.

O depoimento de Delúbio foi tomado na última segunda-feira, pelo promotor Túlio Tadeu Tavares, da Promotoria da Cidadania de São Paulo. Foi marcado para cumprir a carta precatória enviada pelo Ministério Público de Goiás por conta do inquérito que investiga o fato de Delúbio receber salário de R$ 1,3 mil como professor no Estado, mesmo residindo em São Paulo.