Título: Dirceu diz à PF que só Delúbio sabia do caixa 2
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2005, Nacional, p. A11

Em depoimento de cerca de três horas à Polícia Federal, o deputado José Dirceu (PT-SP) atribuiu ao ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares toda a responsabilidade pelo esquema de caixa 2 do partido. Ele disse que tomou conhecimento de empréstimos que o partido teria feito na rede bancária, em 2003, período em que era ministro da Casa Civil, mas alegou que não sabia detalhes, como valores, forma de pagamento e muito menos sobre a distribuição dos recursos a parlamentares da base aliada. Dirceu disse também à PF que nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem qualquer outro integrante do governo conhecia os empréstimos do PT ou qualquer detalhe sobre distribuição de recursos a parlamentares. Para a PF, o depoimento do ex-ministro repete os argumentos que ele usou na CPI dos Correios e na Corregedoria da Câmara e não acrescenta nenhum dado novo às investigações.

Ele reafirmou, por exemplo, que não tinha nenhuma relação com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser operador do caixa 2 do PT. Dirceu disse que conheceu Valério em 2003 num evento social - não se lembra onde. Contou que o empresário esteve em seu gabinete três vezes, acompanhando grupos de empresários, em audiências pedidas pela Usiminas, pelo Banco Rural e pelo Banco do Espírito Santo.

INQUÉRITO

Por ser parlamentar, Dirceu teve direito de marcar dia, local e hora do interrogatório, realizado no seu apartamento na tarde de ontem. Ele está sendo formalmente investigado no inquérito que apura o mensalão, mesada paga a parlamentares e partidos em troca de apoio ao governo. O inquérito apura também o esquema de arrecadação e movimentação de recursos do caixa 2 petista.

A inclusão de Dirceu no rol de pessoas investigadas foi feita pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando Barros de Souza, e aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Souza verificou que, ao longo de 2003 e 2004, o então ministro da Casa Civil teve três reuniões com Valério no Planalto e duas em Belo Horizonte, em períodos que coincidem com grandes decisões ligadas ao mensalão, como as datas de negociação de empréstimos com o Rural.

O procurador-geral levou em conta a denúncia do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e a confirmação de Valério à CPI dos Correios e à PF, de que o ex-ministro conhecia o esquema. A análise do conjunto de depoimentos e documentos convenceu a PF e o Ministério Público de que Dirceu não apenas sabia, como era o principal avalista do caixa 2 do PT e do pagamento de propina a partidos e parlamentares para fortalecer a base do governo.