Título: Extratos indicam pagamento regular e constante para o PL
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2005, Nacional, p. A14

Técnicos encarregados de esmiuçar os extratos bancários requeridos pelas CPIs dos Correios e do Mensalão cruzaram todos os dados referentes a repasses do esquema de Marcos Valério para o PL do ex-deputado Valdemar Costa Neto e identificaram pagamentos regulares e mensais. Foram cheques, depósitos em dinheiro e transferências eletrônicas (TEDs) ao longo de cinco meses que, dispostos em uma planilha, reforçam a idéia clara do mensalão. Os técnicos que assessoram as CPIs avaliam que, se os recursos da agência SMPB, de Valério, fossem sido destinados a alimentar o caixa 2 do PL para cobrir despesas da campanha eleitoral, como alegou Costa Neto, os repasses teriam sido aleatórios e avulsos. Mas na maioria dos casos, são depósitos picados e semanais que somam valores fixos e regulares a cada mês. Para os técnicos, isso sugere que houve acerto envolvendo pagamentos regulares entre fevereiro e agosto de 2003.

Indagado sobre o significado da periodicidade dos repasses, o presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), não hesitou: "Está aí o caminho das pedras."

Em fevereiro de 2003, os repasses ao PL foram de R$ 500 mil semanais, a intervalos de oito dias - no total, R$ 2 milhões. A partir de março, os depósitos passaram a ser menores, de R$ 300 mil por semana, durante cinco semanas (mais R$ 1,5 milhão). Aí os repasses foram interrompidos e recomeçaram em junho, com remessas em três dias consecutivos, sempre totalizando R$ 200 mil na semana. As remessas se estenderam até agosto, num total de mais R$ 2,4 milhões - desde março, o valor total chegava a R$ 5,9 milhões. Um pagamento avulso, final, foi feito em agosto, em cheque, no valor de R$ 100 mil, para chegar aos R$ 6 milhões.

Apesar disso, nos bastidores da CPI há um clima de descrença quanto ao aprofundamento das investigações. "Qualquer observador atento enxerga que não há vontade de chegar a lugar nenhum", advertiu o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), convencido de que há "um apoio velado do governo para que não aconteça nada".

Lando discorda. Ele acredita que a CPI atingirá "seu ponto alto" nos próximos dias. "Estamos chegando no momento de desvendar o que tem para ser desvendado, é momento não de ilações, mas de documentos e fatos." Para o senador, é a fase que lhe permite apostar na eficácia da CPI. Além disso, acrescentou, a comissão confia nas consultorias externas e no programa de software que lhe permitirá o completo cruzamento dos dados. "O que não é possível é quebrar os sigilos de uma montanha de pessoas e todo esse material permanecer intacto."

Redecker avalia que a análise dos documentos tomará tempo. "Não tenho dúvidas de que nomes novos surgirão", disse, ao salientar que há "muitas pendências" não esclarecidas. Ele cita os petistas Neide Aparecida (GO) e Devanir Ribeiro (SP), que trocavam dólares em seus gabinetes. Ele e Lando apostam na acareação de Valério com acusados de participar do esquema na semana que vem, para tirar dúvidas da CPI.