Título: MS vai abater gado mesmo sem laudo
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2005, Economia & Negócios, p. B6

A Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro), responsável pelo controle do surto de aftosa em Mato Grosso do Sul, anunciou ontem que não vai esperar mais a confirmação da suspeita de novos focos para abater os animais. 'A partir de agora, o gado que apresentar sintomas da aftosa será sacrificado imediatamente', disse o presidente da Agência, João Cavalléro, na primeira audiência pública para discutir a situação em Eldorado (MS). Todo o material colhido nas fazendas ou sítios é enviado ao Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) de Belém do Pará, responsável pela identificação e pelo isolamento do vírus. Segundo a Iagro, o prazo superior a 10 dias para a confirmação de focos é muito longo.

O diretor do laboratório em Belém, Airton Nogueira, chegou a afirmar na semana passada que não toleraria pressões para agilizar o diagnóstico nos materiais recebidos de Mato Grosso do Sul.

Ao eliminar a necessidade de comprovação científica do foco, a Iagro pretende acelerar o sacrifício dos animais. O governo do Estado sabe que o tempo é um grande adversário neste momento, dada a capacidade de proliferação da doença para fora da zona tampão. Se isso ocorrer, as autoridades sanitárias serão responsabilizadas pela ineficácia do controle.

A perspectiva inicial da Agência era concluir o abate dos 5 mil animais, criar o chamado 'vazio sanitário', pôr os animais sentinelas - fracos ou não imunizados para testar se o vírus foi debelado - e repovoar as propriedades atingidas em cem dias, no máximo. Assim, o Estado restituiria a condição de zona livre de aftosa com vacinação em cerca de seis meses.

Apenas essa situação daria ao Brasil novo status para negociar o retorno da carne brasileira ao mercado internacional, com a volta dos embarques para os 41 países que decretaram embargo.

Mato Grosso do Sul, onde estão 25 milhões dos 190 milhões de cabeças de gado do País, enfrenta os efeitos econômicos da situação. Os danos são incalculáveis e atinge desde o pequeno sitiante que alimenta a bacia leiteira do sul do Estado aos grandes frigoríficos exportadores.

Por enquanto, o trânsito de bovinos a partir do Estado foi retomado para as demais unidades da federação. São Paulo, por exemplo, voltar a admitir o recebimento de carne desossada. Ainda estão proibidos de entrar no território paulista o gado vivo e em carcaça.

Até agricultores dos cinco municípios da zona tampão (Mundo Novo, Itaquiraí, Japorã, Eldorado e Iguatemi) estão impedidos de vender seus produtos.

A liberação da produção de melão e melancia da região foi um dos temas discutidos ontem na audiência pública. A principal reclamação recai sobre o Paraná, que fechou a fronteira para os produtos sul-matogrossenses.

MEDIDAS

O secretário da Casa Civil do Estado, Ralf Marques, que representou o governador Zeca do PT na audiência pública, afirmou que, além de conseguir a liberação do fluxo de produtos (exceto das cidades envolvidas) para os Estados limítrofes, um fundo de emergência formado com R$ 500 mil do governo do Estado começará a ser usado para dar suporte aos produtores de leite do sul.

Impedidos de vender a produção, os pequenos proprietários rurais já enfrentam os impactos econômicos da interdição. São famílias pobres, que dependem quase exclusivamente da venda dos produtos para a subsistência.

O governo sul-mato-grossense prometeu, a partir de um cadastro que começará a ser feito, comprar a produção de leite pela média de preço que cada produtor tinha até antes do embargo. Segundo o secretário estadual de Produção, Dagoberto Nogueira, a intenção é iniciar a compra da produção nos próximos dias, não antes de se conhecer os produtos. Questionado sobre o tempo que isso pode demorar, ele informou que não há como fazer essa distribuição sem esse controle.

Sobre as indenizações do gado abatido a fim de assegurar o controle sanitário, Nogueira informou que o governo federal deverá complementar os recursos para os pagamentos. O governo dispõe de apenas R$ 5 milhões. 'Sabemos que os R$ 5 milhões não serão suficientes. Por isso, o governo federal fará a complementação dos recursos até o valor necessário', explicou.

Anteontem, o presidente da Iagro estimou em R$ 10 milhões o custo para o abate de 5 mil animais. O governo do Estado informou também que ampliará o efetivo de técnicos e de policiais militares na região. Mais 35 policiais militares serão deslocados de Campo Grande, distante cerca de 450 quilômetros da região do foco. Eles terão a missão de melhorar o isolamento da área.

Em audiência com o presidente Lula na quinta-feira, o governador pediu a presença do Exército na fronteira, com já fez o Paraguai.

Não há informações se haverá deslocamento de tropas para a chamada linha internacional.