Título: Presidente do Supremo também sai derrotado
Autor: Mariângela Gallucci, Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2005, Nacional, p. A4

Na sessão, Jobim tentou convencer os colegas a votarem a favor do pedido de Dirceu

Além de José Dirceu, o julgamento no Supremo Tribunal Federal produziu outro derrotado: o presidente da corte, Nelson Jobim - que votou a favor do pedido de Dirceu. Ele tentou explicitamente convencer os demais integrantes do tribunal a mudar de voto. À medida que a derrota de Dirceu ia se desenhando, aumentaram as manifestações de Jobim e seus comentários com o relator do caso, Sepúlveda Pertence, num tom que beirava a indignação. Último a votar, quando a derrota já estava consumada, Jobim afirmou que a decisão significa uma retomada do "processo de degola do Executivo estabelecido na Constituição de 1891", em que a maioria parlamentar poderia interferir nas políticas do Poder Executivo e demitir ministros. Para ele, o julgamento dá excessivo poder de interferência do Congresso nas decisões governamentais e aumenta a pressão política sobre os ministros. Segundo Jobim, em tese é possível até o Senado abrir processos contra ministro do STF que der uma decisão desfavorável aos interesses do Legislativo. Interrompido por Gilmar Mendes, que pediu explicações sobre essa interpretação, Jobim disse: "Vossa Excelência não perde por esperar por essa situação."

Apontado como provável candidato a um cargo eletivo no próximo ano, Jobim disse que a decisão do STF dá margem para que a Câmara abra um eventual processo por quebra de decoro contra, por exemplo, um ministro da Fazenda, que tenha saído do Congresso para assumir a função, como forma de pressão para mudanças na política econômica.

O presidente do STF foi duro com o ministro Carlos Ayres Britto, quando este, durante a manifestação de voto de Jobim, afirmou que a decisão do plenário tinha o lado positivo de fazer os parlamentares que assumirem funções de ministro pensarem melhor antes de cometerem atos que signifiquem quebra de decoro parlamentar. "Essa é uma leitura udenista (referência à UDN, partido da era Vargas cuja marca era o moralismo radical) da decisão. Sei que o senhor não é udenista, mas foi o udenismo que levou ao suicídio de Vargas", disse Jobim.

Ao final, com expressão frustrada, ele proclamou o resultado e saiu sem dar entrevista.