Título: 'Quem defende a vida não pode ser a favor de arma'
Autor: Fabiano Rampazzo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Metrópole, p. C3,4

Para deputado, quem compra uma arma é para matar, mesmo que alegue defesa

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio, o deputado Geraldo Moreira (PSB) tem muitos motivos para votar a favor da proibição da venda de armas e de munição. Mas um chama a atenção pelo drama familiar que encobre: o pai do parlamentar foi morto por assaltantes interessados apenas na arma, adquirida por ele no comércio legal. "Um homem de bem foi morto por causa de uma arma que deveria defendê-lo." Como o senhor avalia o referendo? É preciso deixar claro que arma só serve para matar. Quem compra uma arma, conscientemente ou não, é para matar, mesmo que sob o pretexto de se defender. Quem é a favor da vida não pode ser a favor de armas.

O argumento da autodefesa é forte, o senhor não acha?

Não penso assim. Perdi meu pai por causa de uma arma que deveria dar segurança a ele. A arma era legal, toda documentada, com nota fiscal e tudo mais. Como nunca andei armado, meu pai ficou com ela. Um dia, ele foi surpreendido ao chegar em casa por dois ou três assaltantes. Levou uma pancada forte na nuca e já caiu morto. Os assaltantes arrombaram a porta e roubaram apenas a arma. Não levaram mais nada. Um homem de bem, de 80 anos, foi morto por conta de uma arma que deveria defendê-lo.

A defesa do "não" alega que só o cidadão de bem será desarmado...

Somos contra as armas, legais e ilegais. E usar um 38 para se defender de um assalto ou armas mais sofisticadas seria uma insanidade. O referendo toca numa parte do problema. Proibir o comércio significa menos armas em circulação. O passo seguinte é a repressão ao tráfico de armas. Não é subir o morro atrás de armas, mas impedir que elas cheguem lá.

O que acontece depois do referendo, se o comércio de armas não for proibido?

Vejo um perigo grande pela frente. A campanha pelo "não" se transformou numa propaganda maciça para a venda de armas e isso pode alterar a percepção das pessoas, fazendo muitos acreditarem que precisam de uma arma para se defender. Se isso acontecer, podemos ter um aumento na procura de armas, legais ou não. Há um risco de o referendo respaldar a compra de uma arma.

E se a proibição prevalecer?

No mínimo, teremos menos dramas pessoais. No domingo, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense), um rapaz sem antecedente criminal, pegou uma arma que o pai mantinha em casa e matou um vizinho depois de uma discussão. Na fuga, fuzilou também o pai do rapaz. Eu estava lá. Conhecia as pessoas.

Que tipo de arma ele usou?

Um revólver calibre 38, com a numeração raspada. Cada arma que se tirar de circulação significa um ponto a favor da vida de alguém.