Título: Edemar: falência é culpa do BC e 'outros bancos'
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Economia & Negócios, p. B7

Para ex-banqueiro, seu crescimento vertiginoso incomodava

O ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira atribuiu ontem a responsabilidade pela falência de seu banco ao Banco Central, que teria apertado deliberadamente a fiscalização contra a instituição a partir de 2003 e provocado uma corrida de investidores. Também culpou "outros bancos", que segundo ele estariam incomodados com o crescimento vertiginoso do Santos. O ex-banqueiro, que depôs na 2ª Vara de Recuperação e Falências de São Paulo, incluiu em sua lista de culpados pela quebra de seu banco, que deixou um rombo estimado em R$ 2,9 bilhões, a Comissão de Inquérito do BC, o interventor Vânio de Aguiar e o Ministério Público. Com relação às próprias responsabilidades, o banqueiro foi bem mais brando. Segundo ele, seu único erro foi ter sido incisivo demais no marketing do banco e ter imprimido um ritmo tão rápido de crescimento ao Santos, incomodando outras instituições financeiras. Segundo ele, havia uma "pressão do sistema financeiro para eliminar" o Banco Santos. De acordo com o banqueiro, enquanto o BC intervinha e preparava a liquidação de seu banco, ajudou o Banco Rural, que enfrentou dificuldades pouco depois da intervenção no Banco Santos.

Em seu depoimento, Edemar, mais uma vez, afirmou que não acompanhava as operações do banco e desconhecia as irregularidades que o levaram a ser acusado criminalmente de evasão de divisas, gestão fraudulenta de instituição financeira, lavagem de dinheiro entre outros crimes. Edemar alegou que passava muito tempo fora do País nos últimos anos.

O ex-banqueiro, no entanto, reconheceu que empresas não financeiras do grupo arcavam com despesas que seriam do banco. Funcionários do Santos foram registrados em nome da Procid, a holding do grupo. Gastos com publicidade da instituição ficavam por conta da Invest Santos enquanto a empresa Alpha arcava com bônus e luvas para diretores do banco. Segundo o promotor Alberto Cami¿a Moreira, responsável pelo processo de falência essa manobra acabava tendo resultados positivos sobre o balanço do banco.

Edemar declarou ainda que seus bens mais vistosos - a mansão no Morumbi, avaliada em R$ 50 milhões , e a coleção de obras de arte - pertencem na verdade a sua mulher, Márcia Cid Ferreira. O banqueiro disse ter feito uma doação à esposa entre 1989 e 1990, em que transferiu seus bens, inclusive valores depositados no exterior.

"Apesar do controlador alegar desconhecer operações de seu banco, não tem o direito de se omitir com relação ao que acontecia. Isso é responsabilidade dele", afirmou o promotor. Os advogados de Edemar já recorreram contra a falência do Banco Santos e contra a nomeação do ex-interventor Aguiar como administrador judicial. Aguardam agora o julgamento pelo Tribunal de Justiça.