Título: OMC quer superar impasse em nova reunião
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

Numa tentativa de evitar o fracasso da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) marcada para novembro, em Hong Kong, os países integrantes iniciam hoje, em Genebra, mais uma tentativa para superar os impasses nas negociações. Para isso, os dois lados terão de fazer concessões, segundo alertou o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última rodada de negociações, a União Européia (UE) se propôs a cortar 70% dos subsídios agrícolas tidos como condenáveis, enquanto os Estados Unidos concordaram com um corte de 60%. A proposta foi considerada insuficiente pelos países integrantes do G-20, composto por exportadores de produtos agrícolas.

Eles avaliaram que, na prática, o corte seria pequeno em comparação com o pretendido. O presidente Lula saudou a proposta dos EUA e da União Européia como "um gesto de boa vontade".

Ao propor o corte nos subsídios, os países ricos mostram querer superar o impasse em que estavam as negociações desde meados deste ano. Ainda assim, diplomatas não descartam a hipótese de as negociações desta rodada não terminem até 2006, como previsto. Seria um duro golpe na estratégia comercial brasileira, que apostou todas as fichas nessa negociação, conhecida como Rodada Doha.

Para alguns diplomatas, um fracasso dessa Rodada levaria o mundo todo a uma corrida aos acordos bilaterais de livre comércio. O Brasil ficaria no pior dos cenários, uma vez que tirou a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e o acerto Mercosul-União Européia da pauta de negociações. Outros, porém, não consideram a hipótese de fracasso nas negociações da OMC como uma "hecatombe". Acham que melhor será não ter nenhum acordo que abrir o mercado industrial em troca de migalhas, em termos de liberalização agrícola e de compromissos de redução de subsídios. Além disso, o Brasil ainda poderá se beneficiar da decisão da própria UE de diminuir as subvenções que compõem sua Política Agrícola Comum (PAC).

FHC

Em nota divulgada ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso considera justificada a preocupação sobre se e quando a redução prometida será implementada. Para ele, é correta a recusa à "cláusula de paz", que tira dos países em desenvolvimento o direito de questionar as distorções de mercado provocadas pelos países desenvolvidos enquanto estiverem revisando suas práticas.

"Mas não deve o Brasil rechaçar ou desdenhar o movimento recente feito pela diplomacia americana", diz a nota. "A proposta representa avanço na redução dos subsídios e na ampliação do acesso a mercados."

Fernando Henrique acredita que os diplomatas brasileiros devem se empenhar em "convencer os europeus a se aproximar mais da proposta americana". "O que não pode acontecer é ficar em um beco sem saída", diz o ex-presidente.