Título: Japorã quer indenização pelo gado abatido
Autor: Fabiola Salvador Agnaldo Brito Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

O Conselho de Sanidade Animal de Japorã, um dos cinco municípios onde vigora proibição da comercialização de produtos de origem bovina, promete uma reação, nos próximos dias, ao abate de animais contaminados com febre aftosa, feito pelos técnicos da Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro). O conselho, reativado ontem, quer que o governo estadual assine acordo com os produtores que tiveram o gado atingido pela aftosa para pagamento da indenização. Em nota, o grupo fala em "depósito antecipado" na conta do proprietário rural antes dos abates. Hoje, produtores de Japorã farão protesto próximo a estação de controle sanitário, nas imediações do Sítio Santo Antonio, uma das propriedades com foco de aftosa. Querem dar eco à posição contrária a adotada pelo município de Eldorado, onde 582 cabeças foram eliminadas na Fazenda Vezozzo e outros 280 animais seriam abatidos ontem na vizinha Jangada, onde existem 4,2 mil cabeças. Corre a informação na região de que o proprietário da fazenda Jangada estaria amparado por uma liminar que impediria o sacrifício de todo o plantel. O Iagro informou que considera esta possibilidade.

O município de Japorã alega que não quer incorrer "no mesmo erro" que Eldorado: o de permitir o abate sem um acordo formal entre o governo do Estado de Mato Grosso do Sul e o produtores pelo qual tenham garantias de recebimento. Segundo Sebastião de Souza, ex-prefeito de Japorã, produtor rural e membro do Conselho, o município é formado basicamente por pequenas propriedades, todas dependentes da pecuária de leite. A paralisação da economia local por causa da interdição da movimentação de produtos já significa custo para a população. A pecuária movimenta cerca de R$ 2,3 milhões por mês na cidade. O abate sem garantias reais sobre valores e prazos de recebimento pode agravar ainda mais a situação da cidade.

A decisão de Japorã cria mais um problema para o Iagro. A Agência tenta agilizar a identificação e eliminação do gado infectado, tudo para tentar garantir o retorno à normalidade da atividade no Estado.

Tem muitas razões para isso. De janeiro a setembro deste ano, a exportação de bois e derivados resultou em US$ 260,9 milhões em divisas ao País. Foram exportados, no período, 120,1 mil toneladas do complexo carne, só de Mato Grosso do Sul. Em ICMS, o Estado arrecadou de janeiro a agosto uma média de R$ 20 milhões por mês.

USO DA FORÇA

O Iagro informou ontem, por intermédio da Assessoria de Comunicação, que os produtores de Japorã não podem impedir o abate de animais contaminados. A operação de identificação e eliminação de gado infectado é respaldada legalmente, quando necessário, pela Polícia Militar. A Agência informou que os processos que levam ao abate dos animais são conhecidos e que haverá indenizações para todos os produtores que apresentarem a ficha sanitária em ordem.

A posição de Japorã também não tem apoio irrestrito na região, mesmo naquela atingida pelo embargo. A prefeita de Eldorado, Mara Elisa Navacchi Caseiro, classificou de "prematura" a posição de Japorã. "O problema é muito sério. O que ocorre aqui afeta o Estado e a nação. Não se pode tomar decisões desse tipo antes de discutir com o Iagro", ponderou a prefeita.

O Conselho alega que comunicou o Ministério da Agricultura e o Iagro sobre a posição dos produtores. A mesma nota distribuída ao final da reunião do grupo foi apresentada aos governos estadual e federal. "Não queremos criar nenhum problema, mas queremos abrir uma discussão sobre qual a solução será dada aos 90% dos produtores de Japorã, que são pequenos e dependem desta atividade", retrucou Souza.

NÚMEROS

Ontem, a Prefeitura de Japorã mandou para publicação um decreto que institui estado de emergência na cidade. Se a crise da aftosa afetou o Estado de Mato Grosso do Sul, atingiu mais ainda a cidade. Segundo dados do município, levantados para amparar o estado de emergência, a cidade comercializa 2,6 mil animais por mês, um movimento que resulta em renda de R$ 1,8 milhão.

A produção de leite também tem relevância na formação da renda das pequenas propriedades. São R$ 150 mil de renda por mês que não deverão circular na pequena economia de Japorã no próximo mês. A produção de leite, de 10,5 mil litros por dia, é jogada fora.

POLÊMICA: O Iagro já considera a possibilidade de eliminar os 3.700 animais da Fazenda Jangada, localizada às margens da Rodovia BR-163, em Eldorado (MS). Até ontem, o problema envolvia o abate de 1.566 animais. Esse número refere-se apenas aos lotes de onde foram identificados animais doentes (fazendas Vezozzo, Jangada, Guaíra e Sítio Santo Antonio). Pode crescer exponencialmente se o Iagro determinar a eliminação de todo o plantel das fazendas atingidas. Ontem, a Agência de Sanidade Animal de Mato Grosso do Sul informou que promoveria o sacrifício de 280 bezerros confinados na Fazenda Jangada, em área limítrofe à Fazenda Vezozzo, onde foi localizado o primeiro foco da aftosa. Na Vezozzo, foram eliminados 582 bovinos e 7 suínos. Dos 280 animais que seriam mortos ontem, apenas 7 apresentaram sintomas da doença. Mas os técnicos analisam o sacrifício de todos os animais da Jangada por causa da facilidade de transmissão do vírus e a rapidez de disseminação. A fazenda produz cerca de mil bezerros por ano. Tenta, segundo informações da região, evitar o abate de todos os animais. Na estrada de terra que dá acesso à sede da propriedade, um posto de controle e desinfecção tenta barrar a saída do vírus para outras propriedades da região. É uma missão trabalhosa e de eficácia discutível. Além das zonas infectadas em Eldorado, 2 novos focos em Japorã foram identificados, no Sítio Santo Antonio e da Fazenda Guaíra e outros 7 são suspeitos. Na primeira, um lote de 344 animais poderá ser abatido. Destes, 20 têm sinais da doença. Na Fazenda Guaíra, de acordo com o Iagro, 362 cabeças deverão ser sacrificadas. A doença foi detectada em 19 reses.