Título: Grandes frigoríficos começam a reduzir abate de animais
Autor: Fabiola Salvador Agnaldo Brito Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

No Minerva, a opção é férias coletivas e, no Bertin, o redirecionamento da produção

Por causa dos focos de febre aftosa e dos embargos, o Grupo Bertin, o maior exportador de carne bovina e couro do País, vai reduzir em 50% os abates em suas unidades de Naviraí (MS) e Lins (SP), redirecionando parte da produção para os abatedouros de Mozarlândia (GO), Ituiutaba (MG), Votuporanga (SP), Itapetinga (BA) e Marabá (PA). Nota divulgada ontem indica que a perspectiva é destinar toda a produção de Naviraí para o mercado interno, e nas demais unidades, aumentar a fabricação de industrializados com valor agregado para o exterior. Por ora, o grupo não pensa em dar férias coletivas ou demitir. Segundo a empresa, o projeto de construção de uma nova planta em Campo Grande continua de pé. "O cenário para o setor ainda é muito incerto", disse Marco Bicchieri, gerente de Exportação do grupo. "Preferimos agir com cautela. Vamos orientar no que for necessário nossos parceiros e clientes e esperar que tudo se normalize rapidamente".

O Bertin é um dos 50 maiores grupos empresariais do País, com faturamento de R$ 3,5 bilhões no ano passado.

Ao mesmo tempo, grandes frigoríficos de São Paulo paralisam a linha de produção e dão férias a mais de 2,3 mil trabalhadores para evitar maiores prejuízos com a queda das exportações. Mais de 70% da carne exportada pelo Brasil sai de frigoríficos paulistas, que têm o Mato Grosso do Sul como principal fornecedor.

O frigorífico Minerva, um dos cinco maiores exportadores do País, decidiu paralisar totalmente sua linha de produção na unidade de José Bonifácio, onde mais de 1,2 mil trabalhadores entram em férias a partir de hoje. Essa unidade abatia 850 bois por dia. O Frigoestrela, de Estrela do Oeste, deu férias a 6% do pessoal e remanejou os trabalhadores da produção para o setor de embutidos.

Preocupados com demissões, os sindicatos de trabalhadores se reúnem com representantes dos frigoríficos hoje em São Paulo. "Se isso ocorrer, será o caos nessas cidades, cuja mão-de-obra sobrevive da renda dos trabalhadores dessas empresas", disse Dulce Ferreira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Araçatuba.

BOIFRAN

Enquanto isso, em Eldorado (MS), depois de terem bloqueado a BR-163, funcionários do frigorífico Boifran Alimentos passaram a manhã de ontem em frente à empresa. Não são só os 580 trabalhadores que enfrentam incertezas. João Eduardo Ramalho, proprietário do Boifran, também não sabe o que vai acontecer, e pode ter de começar a demitir. O impacto disso na pequena Eldorado será devastador. É a única indústria local para uma população de 13 mil habitantes.

O frigorífico está a 10 quilômetros do primeiro foco da aftosa e há 9 dias não abate nenhum boi. Está vetado de operar pela Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal e conserva em câmara fria 700 toneladas de carne. "Não posso vender um grama do que está aí. Como posso cumprir meus compromissos?", indagou o empresário.

Ele tenta, sem sucesso, obter autorização para negociar a carne estocada - carne desossada, sem risco para os consumidores, e criar um corretor sanitário para que o frigorífico possa voltar a funcionar.

"Eu comprava boi de várias cidades da região, não só nos cinco municípios atingidos pela determinação de embargo", disse. Com o corredor, ele poderia trazer gado de fora da área de risco.