Título: Acordo com a Rússia prevê apoio na OMC
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

Cotas para carne e açúcar mudam e País dá aval à entrada de russos na entidade

Brasil e Rússia fecharam ontem um acordo que fixa novas regras para a exportação brasileira de carne e de açúcar, além de prever o apoio do Brasil ao ingresso da Rússia na Organização Mundial de Comércio (OMC). Ao anunciar o acordo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pregou uma ampla parceria dos países emergentes para enfrentar a hegemonia da União Européia e dos Estados Unidos. "Neste mundo globalizado, não há Papai Noel; ninguém dará presente ao Brasil e à Rússia. Essa é uma disputa de conhecimento, de capacidade produtiva, de competitividade. Nessa disputa, nós temos que procurar os parceiros mais próximos", disse Lula, em discurso na Reunião do Conselho Empresarial Brasil-Rússia.

No encontro com Vladimir Putin, Lula pregou uma aliança não apenas comercial, mas "estratégica, para que os países em desenvolvimento não sejam tão dependentes da União Européia e dos Estados Unidos".

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não quis dar detalhes do acordo, alegando ser confidencial. Disse apenas que o Brasil obteve garantias de ampliação de sua presença no mercado russo.

Em relação à venda da carne, Amorim informou que até 2010 será adotada uma das duas opções: ou o aumento da cota de exportação a que o Brasil tem direito ou o fim das cotas, que seriam substituídas por tarifas de importação da Rússia. O prazo de 2010 é fixado porque, quando um país ingressa na OMC, tem cinco anos para se adaptar aos acordos feitos em troca de apoio.

No comércio de açúcar, o Brasil quer a redução dos impostos de importação russos, que variam de acordo com a cotação do produto no mercado internacional. Amorim não detalhou se o Brasil obteve alguma conquista nesse ponto. "A solução foi bastante satisfatória, dentro do que era possível", afirmou.

A dificuldade em fechar o acordo estava na resistência de alguns exportadores brasileiros, que, segundo Amorim, foram resolvidas e, depois que Putin e Lula já haviam feito os pronunciamentos oficiais, o governo russo foi informado de que o acordo podia ser fechado. A conclusão das negociações foi incluída, então, no comunicado conjunto, com 21 itens.

Em pronunciamento oficial ao lado de Lula, Putin disse que o Brasil é um "parceiro-chave" da Rússia na América Latina e que oferece "mais perspectivas".