Título: Votou 'sim' e foi à loja de arma
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Metrópole, p. C4

O comerciante Cláudio Cardoso, de 39 anos, votou a favor da proibição do comércio de armas, mas ontem estava entre os freqüentadores da Palomar, uma tradicional loja de armas no Rio. Ele queria saber como comprar uma pistola. "Parece contraditório. Eu e minha família votamos pelo 'sim'. Mas a vitória do 'não' me causou um certo temor. Não sei nem se teria coragem de atirar em alguém, mas moro em casa. Fiquei com medo." Cardoso tem curso de tiro e já teve uma pistola. Agora está propenso de novo a comprar uma arma. "Ainda vou conversar com minha mulher." A procura por informações na loja foi grande. Assim que chegavam, os interessados em comprar arma recebiam logo um panfleto com a lista de documentos necessários: certidões negativas de auditorias militares, das Justiças Estadual e Federal, teste de avaliação psicológica, prova de tiro.

O clima nas lojas de armas em São Paulo era de alívio e comemoração ontem. "O povo deu uma lavada maravilhosa no governo", disse Vera Ratti, proprietária de uma loja em Santa Cecília. Sérgio Maresca, dono da Ao Gaúcho, no centro, disse estar aliviado. "Proibição não tem mais."

PARA: CIDADES---- Para Taurus, vitória do "não" é reafirmação de um direito Elder Ogliari PORTO ALEGRE - Das três fábricas de armas instaladas do Rio Grande do Sul, a Taurus foi a única que emitiu uma manifestação sobre o resultado do referendo de domingo. Um breve comunicado, exibido no site da empresa durante a manhã de segunda-feira e retirado no início da tarde, disse que "a vitória do não significa a reafirmação, por parte dos cidadãos do nosso País, de um direito consagrado na Constituição Federal, que é o direito de toda a população à legítima defesa".

A nota também lembra que a Taurus optou pelo silêncio desde o início da campanha por entender que a divulgação dos argumentos caberia às frentes parlamentares constituídas pelo Congresso. Afirma, ainda, que a empresa recebeu o resultado com "serenidade". Mantendo a postura da campanha, a diretoria da Taurus informou, por sua assessoria de imprensa, que não concederia entrevistas. A Rossi, de São Leopoldo, e a E.R. Amantino, de Veranópolis, ambas fabricantes de armas de cano longo, também optaram por não falar com a imprensa.

Enquanto os fabricantes preferiram o silêncio, o analista de mercado Rafael Andréas Weber, da corretora Geração Futuro, que tem papéis da Taurus em seus clubes de investimento, disse que o resultado do referendo não vai produzir diferenças significativas no negócio armas.

As empresas vão continuar vendendo a maior parte de suas produções para o mercado externo e para o Exército e forças policiais e uma fatia muito pequena para particulares. "Mas em termos de mercado a percepção da empresa passa a ser mais positiva", avalia.