Título: Campanha curta afetou pesquisas, dizem institutos
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Metrópole, p. C4

Representantes de institutos de pesquisa atribuíram ontem ao formato da campanha o fato de o 'não' ter vencido o referendo com uma margem muito superior à prevista em seus levantamentos. 'O tempo de maturação e formação dessa opinião pública foi muito curto, um mês de campanha. Pesquisa diagnostica um momento', disse Márcia Cavalari, diretora do Ibope Opinião. O 'não' ganhou o referendo com 27,88 pontos de vantagem, 18 a mais do que previu a última pesquisa de intenção de voto divulgada pelo Ibope, na sexta-feira. Da mesma forma, levantamento feito pelo Datafolha na quinta e na sexta-feiras apontava o 'não' 14 pontos à frente. 'O ´não´ aumentava a cada dia. Se o referendo fosse no próximo fim de semana, a vantagem seria mais forte', disse Ricardo Guedes, diretor-presidente do Instituto Sensus.

Para o cientista político Antônio Lavareda, diretor da consultoria em pesquisas MCI Estratégia, a vitória do 'não' foi maior do que os números mostravam por dois motivos principais. Um é que a divulgação de pesquisas incentivou a conversão dos que pensavam em votar 'sim'.

Em julho, quando a intenção de voto no 'sim' passava dos 70%, as pessoas ainda estavam influenciadas pela Campanha do Desarmamento. O outro ponto é que o índice de abstenção foi maior entre pessoas de menor grau de instrução e nas Regiões Norte e Nordeste, onde o 'sim' era mais forte. 'Na última pesquisa, havia empate técnico em vários locais do Norte e do Nordeste. A abstenção aumentou a distância', concordou Márcia.

Segundo Guedes, os debates sobre o referendo transformaram o Brasil em um grande grupo de discussão. 'Uma parcela se convenceu do ´não´ e passou a fazer um trabalho forte de convencimento boca a boca.'