Título: Aliada no Conselho acha relatório tendencioso
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Nacional, p. A7

Com a ajuda de assessores da liderança do PT na Câmara, a deputada Angela Guadagnin (SP) pretende defender o deputado José Dirceu (SP) no Conselho de Ética, fazer uma "contestação política" ao relatório do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que propõe a cassação do mandato do ex-chefe da Casa Civil, e fazer voto em separado. "É um relatório tendencioso e que falta com a verdade", antecipou ontem a deputada. Dentro da estratégia de adiar ao máximo o julgamento de Dirceu, ela pediu vista do processo no Conselho e provavelmente será o único voto favorável ao deputado entre os 12 conselheiros.

"Está sendo feito um prejulgamento político", disse ela, destacando que está pronta para apresentar seu voto em separado, assim que o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), marcar a data da reunião decisiva.

Na avaliação da petista, Júlio Delgado fez um relatório forte contra Dirceu e ignorou alguns depoimentos-chave prestados às CPIs dos Correios e do Mensalão, que teriam negado a participação do ex-ministro no esquema de pagamento de mensalão, assim como não apresentou provas materiais. Entre esses depoentes estão o empresário Marcos Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que o próprio Dirceu deu como exemplo em sua defesa.

GANHAR TEMPO

Angela Guadagnin tinha acertado com Izar que apresentaria hoje seu voto em separado, mas como o regimento da Câmara confere ao pedido de vista um prazo de duas sessões, ela optou por ganhar mais tempo, como vêm fazendo os aliados de Dirceu. Pode entregar até amanhã à noite ou quinta-feira, porque não houve quórum nas sessões plenárias de sexta-feira passada e de ontem.

"Estou preparada e aguardando a data da reunião do Conselho, pois meu relatório está praticamente pronto", confirmou. Ela informou que não pretende recorrer à Mesa da Câmara se Izar não cumprir rigorosamente o regimento, mas admitiu que isso poderá ser feito pelo advogado de Dirceu. "Se Izar não quiser ter problemas jurídicos, não marcará a reunião antes do prazo de duas sessões. Caso contrário, vai assumir a responsabilidade", afirmou.

A deputada não quis antecipar o seu parecer, afirmando apenas que está "buscando a verdade sobre os fatos". Ela discordou da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que não considerou o fato de que Dirceu, à época dos fatos incriminadores, não estava no exercício do mandato de deputado. "Como poderia estar no mandato se o suplente tinha assumido o cargo? O Estado de São Paulo teria então dois representantes na Câmara?" , questionou Angela em defesa de Dirceu.