Título: Lula diz a empresários que não há razão para reclamações
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Nacional, p. A11

O presidente Lula disse ontem a cerca de 400 empresários, detentores de 37% do Produto Interno Bruto (PIB), que "não haverá nenhuma pressão, de quem quer que seja, que faça com que o governo mude o rumo de uma coisa que está dando certo". Durante almoço com o Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo, o presidente disse que não há razão para reclamações. "O que está caindo no Brasil?", indagou. "Os juros, a inflação e o custo de vida estão caindo. Não temos razão para reclamar, temos razão sim para exigir cada vez mais, porque é com muita exigência que esse Brasil pode dar certo." Ao final de seu pronunciamento, ouviu perguntas de três empresários. Paulo Zottolo, presidente da Nívea, indagou: "Quando terminar seu mandato, como é que o sr. gostaria de ser lembrado pelo povo?"

Para responder, resgatou parte de seu discurso de posse. "Eu disse que ao terminar meu mandato se todos os brasileiros estivessem comendo no mínimo três refeições por dia eu já estaria satisfeito."

Ele fez uma sugestão aos empresários. "Quando terminar meu mandato eu gostaria que vocês fizessem uma medição do que aconteceu nos últimos 30 anos na economia brasileira, um estudo comparativo: em que momento nós estivemos melhor, em que momento tivemos mais solidez, mais credibilidade, em que momento as coisas andaram muito melhor para o Brasil. É assim que eu quero que a sociedade veja, analise corretamente, pense, porque acho que estamos fazendo para o Brasil uma coisa que deveria ter sido feita 30 anos atrás."

Lula disse que seu governo está oferecendo ao País a primeira grande oportunidade de um ciclo de desenvolvimento sustentável. "Sem que o governo permita que a gente faça estupidez ou tente fazer mágica com a economia brasileira, por causa de um processo eleitoral ou por causa do entendimento ou não de uma categoria, seja de grandes empresários ou pequenos."

E pediu que o País "não jogue fora essa oportunidade". "Vocês já foram dormir ganhando 10 e levantaram perdendo 15, foram dormir devendo 100 e acordaram devendo 400. Todos aqui já sabem que não tem mágica."

Marcos Magalhães, presidente da Philips do Brasil, cobrou uma política suprapartidária para o ensino, "uma política pública, de governo, do presidente, e não do ministro da Educação". Lula rebateu criticando planos que em sua avaliação não deram certo. "Quem inventou mágica quebrou a cara neste país. A nossa mágica na verdade é a seriedade no trato da economia para que ninguém seja pego de surpresa. É por isso que as exportações estão crescendo, que as importações de bem de capital estão crescendo, que a poupança interna que era 18% quando disputamos as eleições e está 24% hoje. É por isso que cresce o crédito ao consumidor, que o emprego cresce, que superávit de conta corrente cresce."

Ao final, pediu paciência e afagou sua platéia. "Eu sei daqueles que querem que o câmbio seja um pouquinho mais alto, mas também é preciso lembrar que pediram o tempo inteiro que o câmbio deveria ser flutuante. Temos de ter paciência nessa coisa. Sabemos que o trabalho feito até agora foi o de dizer para o Brasil "olha, nós não jogaremos fora essa chance, não jogaremos fora".