Título: Navios não conseguem chegar a Manaus
Autor: Carlos Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Nacional, p. A12

Pelo menos cinco navios de carga que deveriam atracar nos portos de Manaus nas próximas três semanas tiveram suas viagens canceladas. As embarcações de carga com 9 metros de calado (a parte do casco que fica submersa) estão impossibilitadas de passar por dois pontos críticos no Rio Amazonas no caminho da capital. O pior ponto, segundo o presidente da empresa Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia (Proa), Carlos Tavares, é a Passagem do Tabocal, a 44 quilômetros de Manaus. "Ali, nem navios com calados menores estão passando", disse. Outro ponto é a Ilha das Onças, a 70 quilômetros da capital.

Segundo Tavares, uma média de 12 navios de carga de grande porte atracam nos portos de Manaus semanalmente. Nas últimas duas semanas, apenas dois conseguiram passar pelos pontos críticos do Rio Amazonas. "De Tabatinga a Manaus, por exemplo, há mais de 50 pontos críticos. As viagens têm de ser feitas com menos carga e atenção redobrada e a duração delas mais que dobrou."

A equipe do SOS Interior, que coordena as ações de ajuda aos ribeirinhos por conta da seca, de acordo com o coordenador José Melo, já chegou a 1.373 comunidades e 33 mil famílias. "Ainda falta entregar pouco mais da metade das 1,6 mil toneladas de alimentos."

Na próxima semana, a ajuda chega aos 12 municípios do Baixo Amazonas. Já foram distribuídas 887 toneladas de alimentos e 36 toneladas de medicamentos.

AVALIAÇÃO

"A tendência é de restauração da normalidade na Amazônia, que enfrenta a mais crítica estiagem dos últimos 50 anos, mas isso só deve acontecer em 60 dias." A avaliação foi feita ontem pelo ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, no Recife, onde participou de seminário nacional de administração de obras públicas.

Ele explicou que a crise começou nas nascentes. "Agora começa o contrário, enchendo nas nascentes e secando para baixo." Advertiu que na região entre Amazonas e Pará a situação ainda vai piorar. Segundo Ciro, as "distâncias abissais e o nível muito baixo das águas impedem a normalização da situação em menos tempo".

O ministro elogiou a operação de socorro, "com 100% das pessoas atendidas com alimento e medicamentos". Frisou que foi montada uma malha de transporte com Exército e Marinha visando à restauração dos fluxos e garantiu que o governo manterá intervenção na região durante 60 dias. Ele não acredita em impactos graves na pesca. "O recurso pesqueiro natural tem reposição rápida."