Título: Para não morrer de sede no Pará, 15 km a pé
Autor: Carlos Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Nacional, p. A12

Além da estiagem que secou rios e lagos e isolou dezenas de comunidades, a falta de água potável é agora o maior problema em 12 municípios do sudoeste do Pará. Em algumas localidades é preciso andar 15 quilômetros para obter água potável. O governador Simão Jatene (PSDB) esteve no domingo em Santarém e ouviu apelos dramáticos de prefeitos da região, que pediram para o Estado criar um programa de emergência para perfuração de poços artesianos. "A comida está chegando, mas não podemos deixar que as pessoas morram de sede. Isso é inadmissível numa região banhada pelo maior rio do mundo em volume d'água, como é o Amazonas", disse o prefeito de Curuá, José Antonio Paulo da Silva.

Para Jatene, o atendimento às famílias, a partir de agora, deve ser diferenciado. Ele pediu clareza nas ações, afirmando ser necessário encontrar uma solução para cada caso. Só os prefeitos podem fornecer informações precisas, segundo o governador, para que o Estado direcione suas ações.

A prefeita de Santarém, Maria do Carmo (PT), relatou que toneladas de peixes morreram na água contaminada dos lagos e o problema vem se agravando. "Pedimos o apoio da Secretaria Nacional de Pesca e estamos preocupados com o abastecimento na cidade."

Doenças como diarréia e micose começam a preocupar em algumas localidades. O prefeito de Jacareaganga, Carlos Veiga, informou que cerca de 105 aldeias foram afetadas. A Fundação Nacional do Índio (Funai) vai elaborar um relatório sobre as populações indígenas atingidas pela estiagem para definição de ações de atendimento.

ESTUDO

O último levantamento do Ministério da Integração Nacional sobre a seca no Amazonas é do dia 18. De acordo com o estudo, a seca prejudicou 941 comunidades e atingiu 167 mil pessoas. O governo liberou R$ 30 milhões às vítimas, que receberam 100 mil cestas básicas; 130 kits de medicamentos e 18 toneladas de ampolas de hipoclorito de sódio para purificar a água potável. Segundo o relatório, não havia indício de epidemia.