Título: Igreja vai debater sua decepção com Lula
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Nacional, p. A12

Começa hoje em Brasília a Assembléia Popular: Mutirão por um Novo Brasil, organizada pelas pastorais sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o apoio do Movimento dos Sem-Terra (MST). São esperados 8 mil participantes, que ficarão reunidos no Ginásio Nilson Nelson até sexta-feira. Na linguagem oficial vão discutir a rearticulação dos movimentos sociais e da Igreja diante do cenário político, econômico e social do País. Extra-oficialmente sabe-se que deverão falar do desencanto da ala progressista da Igreja com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no qual apostou suas fichas durante anos, e como deverão tratá-lo daqui para a frente. De acordo com líderes de pastorais sociais, o engajamento no governo Lula resultou em muitas lugares na desarticulação dos movimentos - e a intenção agora e rearticulá-los, distanciando-se do governo.

A Assembléia Popular faz parte deste esforço de rearticulação. Ela é o ponto culminante de um conjunto de encontros, denominados semanas sociais, que foram realizados por todo o País nas últimas semanas. Da sua pauta constam temas como a necessidade de um novo modelo econômico para o País, diferente do adotado pelo ministro Antonio Palocci; e formas de controle democrático do Estado e de participação direta da população em todas as instâncias do poder político. Tanto as pastorais sociais como o MST defendem a realização de mais plebiscitos e referendos no País.

De acordo com o bispo d. Demétrio Valentini, presidente da Caritas no Brasil e um dos coordenadores da assembléia, o recente episódio do Rio São Francisco, com a greve de fome de seu colega d. Luiz Cappio, que existe uma onda de energia no País, voltada para mudanças sociais. "Em meio ao peso paquidérmico de um Estado enferrujado, de uma sociedade habituada à sonolência da dominação e à resignação das desigualdades, é salutar a reação desse mutirão que pressagia o eclodir de um novo Brasil", escreveu d. Demétrio num recente artigo sobre a assembléia.

As pastorais sociais e o MST consideraram decepcionante a atitude de Lula no episódio de d. Luiz Cappio. Num artigo distribuído pela internet e intitulado O Dia em que Lula Foi a Cabrobó, o sociólogo Ruben Siqueira, que é agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e assessor de d Luiz, escreve que o que se viu lá foi "mais um brutal desencontro entre o governo e a sociedade, o povo e o poder, esta lambança em que se tornou a relação entre Estado, governo e sociedade, desde que o PT tomou de assalto o Planalto".