Título: Ministério não tem verbas para preparativos contra epidemia
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Vida&, p. A17

O Ministério da Saúde não tem recursos em seu orçamento para arcar com os preparativos contra uma pandemia causada por um supervírus de gripe. O ministro Saraiva Felipe afirmou ontem já ter alertado a equipe econômica de que sua pasta, sozinha, não conseguirá custear todas as providências, estimadas em R$ 1 bilhão. "São várias as atividades, desde equipar laboratórios de referência, preparar hospitais, treinar profissionais de saúde." Ele observou, por exemplo, que serviços de sentinelas, encarregados de detectar os primeiros casos da doença, terão de estar "na ponta dos cascos", para não deixar passar em branco casos suspeitos. "A verba será necessária para Saúde e outras áreas envolvidas, como Agricultura."

Na semana passada, o ministério informou que, para os preparativos e o plano de contingência caso a epidemia se instale, o País precisará de R$ 1 bilhão. O dinheiro seria usado em campanhas, vacinações e medicamentos. "Não podemos desviar dinheiro de outras ações para isso." Segundo ele, no governo "há o reconhecimento de que o problema tem de ser revolvido". Mas ainda não existe definição de onde virá o dinheiro.

A busca por recursos não se limitará ao território nacional. Saraiva Felipe participou ontem de uma reunião, no Canadá, com ministros de Saúde de vários países. O encontro fez uma constatação unânime: é preciso ampliar a verba da Organização Mundial de Saúde (OMS) e criar um fundo para os países afetados, caso a epidemia de fato aconteça. "O mundo vai perder a batalha contra a doença caso não se crie condições para que países afetados sintam-se seguros em informar as primeiras contaminações."

O ministro saiu da reunião pouco otimista. Ele ouviu de especialistas que se um supervírus capaz de infectar humanos aparecer, o mundo teria poucos recursos terapêuticos para contê-lo. "Não há até agora uma vacina ou um medicamento infalível", afirmou. "O Brasil está equiparado a outros países, mas o recursos existentes até agora são escassos."

Saraiva Felipe reafirmou a disposição do Brasil de obter a licença voluntária do antiviral Tamiflu, da Roche. "Caso a empresa se dispuser a conceder a licença, temos condição de fabricar o medicamento em Farmanguinhos." Conforme ele, o País poderia ter um papel importante para fornecer, a países vizinhos, tanto um medicamento quanto uma vacina, que seria produzida pelo Instituto Butantã.

PLANO BRASILEIRO

O ministro afirmou que o Brasil já tem pronto o plano de contingência. O documento, que está "numa espécie de consulta pública", prevê ações que vão de quais medicamentos devem ser usados até a ordem de vacinação. Segundo o plano, autoridades nacionais receberiam em primeiro lugar a imunização, seguidos por trabalhadores em saúde, das Forças Armadas, Defesa Civil e trabalhadores dos transportes, minas e energia e limpeza urbana. Num segundo momento, seriam imunizados operários, funcionários de fábricas.

Nesta semana, o governo criará um grupo interministerial encarregado de traçar a estratégia contra um eventual supervírus. Sob a coordenação da Saúde, ele será integrado ainda por Agricultura, Meio Ambiente e Defesa Civil. Mas os preparativos já começaram. O Brasil encomendou Tamiflu para um estoque nacional com tratamentos para 9 milhões pessoas.

Mesmo assim, muitos brasileiros querem fazer seu próprio estoque. Segundo o Roche, a quantidade prevista para este ano já acabou. Um novo pedido foi feito à matriz, mas não se sabe quando ele chegará. A prioridade, por enquanto, é abastecer países que estão no inverno e pedidos de governos.