Título: MS cobra do governo recursos para indenizar produtores
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

O governo de Mato Grosso do Sul aproveitou a presença de observadores da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados e representantes do comando do Exército para cobrar a transferência de R$ 19,5 milhões do governo federal - R$ 3,5 milhões em verbas já prometidas e R$ 16 milhões em recursos emergenciais. O dinheiro é esperado para bancar os altos custos de fiscalização e controle da zona tampão e principalmente iniciar o pagamento das indenizações pelos animais sacrificados, além de garantir renda mínima às centenas de pequenos pecuaristas que dependem da venda de leite. Desde o surgimento do primeiro foco confirmado de aftosa na região, foi suspensa a entrega do leite produzido na região, principal atividade de renda em quase todos os assentamentos de reforma agrária. "Esse dinheiro tem de chegar rápido. Temos de começar a indenizar os produtores. Se não, eles podem começar a esconder um foco e isso é prejudicial a nós e ao País", diz o secretário de Produção do Estado, Dagoberto Nogueira. Segundo ele, o início das indenizações reduziria o ceticismo dos produtores. É fácil constatar que não há um só produtor que acredite na promessa de indenização dos governos estadual e federal.

A desconfiança é talvez, agora, um adversário mais poderoso do que o vírus da aftosa, que obrigará a Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro) a abater mais de 6 mil animais, segundo as regras dos organismos internacionais. "No momento em que eles sentirem que serão indenizados, eles continuarão denunciando os possíveis focos na região", diz secretário. Caso contrário, o Estado teme perder esse aliado.

A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado Ronaldo Caiado, visitou barreiras de controle e desinfecção em Eldorado. Ontem, a Defesa Civil, responsável pelo controle operacional e logístico das barreiras, instalou mais 11 postos, a maioria na zona de fronteira, na chamada linha internacional que divide Brasil e Paraguai.

Caiado deu especial atenção ao problema da fronteira. Além de cobrar agilidade na liberação de recursos para indenizar proprietários e pequenos produtores rurais, a comissão pedirá ao presidente Lula que ordene a transferência de tropas do Exército para a região de fronteira. O assunto está nas mãos do vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar. Os representantes do Exército informaram que não receberam ordem nesse sentido ainda.

ACORDO REGIONAL

A Comissão de Agricultura prometeu adotar uma atitude mais incisiva em relação a um acordo sul-americano de defesa fitossanitária. Caiado disse que pedirá ao Itamaraty compromisso na articulação de um acordo regional que tenha como objetivo a erradicação de todas as cepas do vírus da febre aftosa na América do Sul.

"É preciso chegar a um acordo com os demais países (da América do Sul) e não mais deixar Mato Grosso do Sul exposto a essa situação cíclica, que volta e meia faz a economia do Estado desabar. O MS virou o pára-choque da agropecuária brasileira", criticou Caiado.