Título: Fazenda Vezozzo decide plantar soja
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Os 250 hectares de pasto da Fazenda Vezozzo, no município de Eldorado (MS), onde foi registrado o primeiro foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul que provocou sacrifício de 580 animais, serão convertidos em área de soja. A decisão da família é a de se afastar, por algum tempo, da atividade pecuária. A fazenda, com área total de 730 hectares - incluída a parcela de reserva legal -, já produz soja em 400 hectares. Segundo Vinicius Vezozzo, um dos donos da propriedade, a mudança da bovinicultura para a sojicultura depende apenas de uma autorização do Ministério da Agricultura. A solicitação da Vezozzo já está em Brasília. A meta, diz Vezozzo, é fazer o plantio direto de soja nos próximos meses para a próxima safra de verão de 2005/2006.

Será, segundo ele, a alternativa que restou depois de a Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro) ter abatido todos os animais da fazenda. O episódio deverá reduzir pela metade o faturamento da fazenda neste ano, além de ter provocado "uma profunda decepção", disse o proprietário.

O impacto econômico vai além. A indenização prevista após os abates não deverá cobrir o capital relativo às 580 reses, e o peso do rebanho não era a única reserva de valor. De acordo com Vezozzo, a cifra para a indenização do plantel ainda não foi definida. Indicações preliminares, entretanto, indicam que a fazenda receberá de R$ 500 a R$ 600 por animal abatido. Multiplicado pelo total, o valor da indenização variaria entre R$ 290 mil e R$ 348 mil.

"É um valor que está próximo ao que se pratica no mercado, mas há um valor que estava nele e foi perdido. O gado abatido era um banco genético da raça Limousin, um trabalho que foi enterrado junto", lamenta Vezozzo.

A seleção dentro da raça havia começado em 1985, a partir das primeiras inseminações artificiais, e havia alcançado 20 anos depois um grau de depuração importante. A aftosa acabou com tudo. A previsão é que este valor zootécnico aplicado ao rebanho não seja recuperado.

Por ora, o critério de definição do valor é o peso multiplicado pelo valor de mercado da arroba. "Do ponto de vista da tecnologia agropecuária houve um regresso tecnológico", declarou. E isso, a indenização não será capaz de trazer de volta.

Em cinco anos, a família decidiu restringir o número de animais e aprimorar a seleção. Com isso, os 1,5 mil animais existentes no início desta década, foram reduzidos a um terço, entre 500 e 600 animais.

NO ESTADO

A comercialização de animais, de carnes e derivados produz uma receita mensal média a Mato Grosso do Sul de R$ 20 milhões, cerca de R$ 240 milhões por ano. O Estado é responsável pela criação de 25 milhões de animais. O Brasil tem 190 milhões de cabeças.