Título: OIT pressiona a China a criar regras trabalhistas
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

Trabalhadores e empresas brasileiras e de outros países começam a pressionar para que a China crie regras trabalhistas a fim de evitar o dumping social na exportação de têxteis. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) iniciou ontem a primeira reunião entre governos, empresários e trabalhadores para debater a situação. Em janeiro, as barreiras contra produtos têxteis de países em desenvolvimento foram eliminadas, depois de 40 anos de proteção. O resultado está sendo uma revolução nos fluxos do setor, que movimenta US$ 350 bilhões por ano e emprega 40 milhões de pessoas, a maioria mulheres.

Até quarta-feira, os participantes da reunião deverão fechar um texto que trará sugestões de como lidar com as transformações no setor. Mas ontem o tom das queixas, tanto de empresários como de trabalhadores, era um só: os demais países não podem continuar competindo com a China enquanto Pequim continuar aplicando regras trabalhistas desleais.

"A China está incrementando suas exportações com base em trabalho semi-escravo, com trabalhadores que operam sete dias por semana com salários de menos de US$ 1,00 por dia. Não somos contra os trabalhadores chineses, mas não podemos apoiar um regime de partido único que não respeita os direito dos trabalhadores", afirmou Manfred Schallmeyer, presidente da IG Metall, um dos sindicatos mais poderosos da Europa. "A China está exportando pobreza para o resto do mundo", afirmou o sindicalista, que destaca que 65% dos postos de trabalho podem desaparecer nos Estados Unidos se a tendência continuar.

Para os empresários, a concorrência chinesa tem de ser leal. "A competitividade dos produtos têxteis não pode ser resultado de condições de trabalho, queremos padrões trabalhistas mínimos", afirmou Antonio Cesar Berenguer de Bittercourt Gomes, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Têxteis (Abit) e representante dos empresários nacionais na reunião da OIT.

Para o grupo de empresários internacionais que estão na OIT, todos os países precisam seguir as mesmas regras para que a competição seja justa. "No caso dos países que ainda não são considerados economias de mercado, só regras mínimas de trabalho podem evitar um dumping social", afirmou um porta-voz dos empregadores, se referindo à China.

Para os sindicatos, a solução seria a inclusão de uma cláusula social nos próprios acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo brasileiro é tradicionalmente contra essa idéia, temendo sofrer barreiras dos países ricos.

A delegação chinesa ouviu as queixas e não fez nenhum comentário.