Título: Juro alto faz dívida do governo subir R$ 103 bilhões neste ano
Autor: Adriana Fernandes e Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Economia & Negócios, p. B10

As altas taxas de juros elevaram em R$ 103,06 bilhões a dívida do governo representada por títulos vendidos no mercado interno. No fim de setembro, a dívida somava R$ 933,22 bilhões, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério da Fazenda. De janeiro a setembro, o endividamento aumentou R$ 122,96 bilhões, mas, segundo o Tesouro Nacional, a venda líquida de novos títulos foi só de R$ 19,9 bilhões. A diferença é o efeito dos juros. O peso dos juros no saldo da dívida reflete, principalmente, o aumento da taxa Selic no ano. Isso ocorre porque, hoje, 54,33% dos títulos públicos são corrigidos pela variação da Selic, que, de setembro do ano passado até maio deste ano, subiu de 16% para 19,75% ao ano. A taxa só começou a cair no mês passado e está, agora, em 19%.

Os dados mostram ainda que, de agosto para setembro, a dívida aumentou R$ 12,43 bilhões. Desse total, R$ 10,4 bilhões são decorrentes do impacto dos juros e os outros R$ 2 bilhões se referem a novos títulos vendidos no mercado.

Apesar do aumento da dívida, os números do Tesouro até setembro indicam que houve melhora no perfil da dívida, com queda da parcela de papéis vinculados à Selic e aumento dos prefixados. Isso significa que a dívida ficou um pouco menos sensível ao humor do mercado financeiro e ao risco de variações bruscas da taxa Selic.

Em setembro, a parcela de títulos prefixados subiu de 23,87% (R$ 219,79 bilhões) para 25,76% (R$ 240,39 bilhões), o melhor nível desde 1999. Por outro lado, a participação de papéis corrigidos pela Selic caiu de 55,85% para 54,33%. O estoque desses títulos ( pós-fixados) estava em R$ 507,06 bilhões no fim de setembro.

A dívida cambial (vinculada à variação do dólar) também continua em queda, tendo atingido, em setembro, R$ 35,61 bilhões ou 3,82% do total.

No início do governo Lula, a parcela de prefixados, títulos que dificilmente são vendidos em momentos de grande turbulência, correspondia a só 1,91% e a dívida cambial, a 22,06%.

O coordenador da Dívida Pública do Tesouro, Paulo Valle, destacou, como dado positivo, a redução da parcela de títulos que vence em até 12 meses, que caiu de 42,71% para 41,02%. Essa é a chamada dívida de curto prazo. Quanto menor essa parcela, menor o risco de financiamento para o governo e melhor para a imagem do País.