Título: Definição de relatores tira sono de acusados
Autor: Christiane Samarco, Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Nacional, p. A7

Maioria dos casos está com deputados que já demonstraram posição rigorosa

A escolha por sorteio dos relatores dos processos de cassação dos 11 deputados acusados de suposto envolvimento no esquema de mensalão foi motivo de comemoração e preocupação entre os acusados. Preocupado em evitar pressões, o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar, que tem a prerrogativa de indicar o relator, preferiu o sorteio. Amigos e desafetos do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) avaliaram que faltou sorte ao deputado mais ilustre da lista dos processados no Conselho de Ética. O processo do petista foi entregue ao deputado Cezar Schirmer, conhecido na Câmara como o "gaúcho baixinho e criador de caso" da ala rebelde do PMDB. João Paulo é acusado de ter recebido R$ 50 mil do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. "Esse papel de avaliador de conduta da vida alheia não me agrada, mas é minha tarefa", resumiu o relator Schirmer logo que soube de sua indicação.

Teve mais sorte o ex-líder do governo e deputado Professor Luizinho (SP), na opinião de governistas e adversários do PT, quando Pedro Canedo (PP-GO) foi escolhido para relatar seu processo. Não só pelo fato de Canedo ser do PP, partido que engrossa a lista dos acusados com quatro nomes, mas sobretudo por sua experiência de quatro mandatos e seu estilo calmo, leve e de bem com a vida. Canedo é, ainda, amigo do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, goiano como ele. "Farei avaliação serena e sem preconceito", disse Canedo.

Aliados do deputado José Mentor (PT-SP) chegaram a comemorar a escolha de Edmar Moreira (PFL-MG) para relatar o processo contra ele. Recém integrado ao PFL, Moreira era do PL até o mês passado e atuou com Mentor na CPI do Banestado, na qual o petista foi o relator. "Não vou falar mais sobre Mentor", disse Moreira, assim que assumiu o processo. Seu partido, o PFL, tem prometido rigor nos julgamentos e deverá atuar para impedir que parlamentar de seus quadros inocente um petista.

O líder do PP José Janene (PR) não se queixou da sorte. A relatora de seu processo será a petista Angela Guadagnin (SP). "Ela é respeitada e confio muito no trabalho do Conselho, que já demonstrou ter equilíbrio", avaliou o líder.

O ex-ministro pefelista Roberto Brant (MG) é outro que admite ter tido sorte na escolha do relator de seu processo, o peemedebista Nelson Trad (MS). "O Trad é parlamentar antigo, um político experiente, calejado e independente, que me conhece há muito tempo", ponderou Brant.

O deputado João Magno (PT-MG) terá de enfrentar a rigidez do relator de seu processo, o deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), também relator do pedido de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que acabou aprovado pelo conselho e pelo plenário da Casa.

SEM PROVAS: O deputado Orlando Fantazzini (PSOL-SP) deverá inocentar o deputado Pedro Henry (PP-MT) no Conselho de Ética da Câmara. Escolhido ontem relator do processo disciplinar, preliminarmente Fantazzini considera que não há indícios de envolvimento do parlamentar no esquema de mensalão. Henry vai depor hoje, para apresentar a sua defesa oral.

Esse processo deverá ser o mais rápido dos 11 instaurados na segunda-feira. "Se não tiver elemento nenhum, nem um único indício, não vou ficar empurrando com a barriga para martirizar ninguém", justificou Fantazzini.

O ex-petista vai avaliar a defesa, analisar os documentos e concluir logo o seu parecer. O acusado também tem pressa. Ontem, foi ao Conselho para ser notificado e disse que não apresentará nenhuma testemunhas de defesa: "Não há como fazer prova negativa."

Se não houver nenhum indício de crime, o conselho poderá arquivar a representação preliminarmente.