Título: 'Nenhuma provocação vai me tirar do sério. E vamos continuar viajando'
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Nacional, p. A8

Lula comemora resultado 'excepcional' de visita à Rússia e diz não temer a volta ao País: 'Sem problema, não tinha política'

No último dia da viagem de uma semana que incluiu Portugal, Espanha, Itália e sua primeira visita à Rússia (o 77.º país que ele visita desde a posse), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou ontem o "resultado excepcional" do encontro oficial com o presidente Vladimir Putin e disse não temer a volta ao Brasil, para enfrentar de novo a crise política e as denúncias de corrupção envolvendo companheiros do PT. "Problemas fazem parte da política. Não acredito em nenhum país do mundo que não tenha problema. Se não tivesse problema, se resolveria tudo no convento", afirmou o presidente no fim da tarde de ontem, ao deixar o hotel onde passou rapidamente pela Reunião do Conselho Empresarial Brasil-Rússia. Lula reagiu aos críticos da política econômica e da política externa, dizendo que não vai mudar o rumo do governo. "Nenhuma provocação vai me fazer sair do sério, do rumo que estabelecemos para a economia brasileira. Vamos continuar crescendo, gerando empregos, distribuindo e transferindo renda. Sei que isso incomoda muita gente porque muita gente nunca viu no Brasil fazer coisa para pobre e nós vamos fazer. E vamos continuar viajando o mundo para poder colocar o Brasil com muito mais força no mercado internacional", avisou.

O presidente evitou comentar a decisão de cinco deputados petistas denunciados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão de não renunciar e enfrentar o processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara. Mas voltou a dizer que a mentira e a verdade "ainda vão aparecer". "Vivemos uma situação muito engraçada em que se joga suspeição sobre todo mundo e se prova muito pouca coisa. Vai ter um tempo em que isso vai ter um veredicto final."

Para o presidente, cabia aos deputados petistas decidir sobre seu futuro. "Eles é que sabem o clima que estão vivendo", observou. Depois, disse ter conversado por telefone, às 2h da madrugada de ontem (8 da noite da segunda-feira, no Brasil), com o ministro Jaques Wagner. "Estava tranqüilo. Do PT, apenas o Paulo Rocha pediu renúncia. O restante resolveu fazer o debate político. Eu não esperava nada. Esperava que os deputados fizessem aquilo que achavam que tinham que fazer. Quando terminar tudo, vamos ver o quanto tem de verdade, o quanto tem de mentira. Somente o tempo vai poder provar."

SONHO

A programação do presidente na Rússia começou com um improviso: às 11h da manhã, ele fez um inesperado passeio pela Praça Vermelha, que incluiu uma visita ao corpo embalsamado de Lenin, o líder da revolução comunista que derrubou a monarquia em 1917. Acompanhou depois a primeira-dama, Marisa Letícia, até a porta da Catedral de São Basílio. Horas depois, durante comunicado conjunto com Putin, Lula confessou: "Realizei dois sonhos meus: visitei a Praça Vermelha e fui ver o corpo de Lenin."

Antes de seguir para o Kremlin, Lula colocou flores no Túmulo do Soldado Desconhecido. Quando chegou ao suntuoso palácio, o termômetro marcava 8 graus, mas o vento e a umidade davam a impressão de um frio bem maior.

Depois dos compromissos bilaterais, Lula foi para a Embaixada brasileira, onde almoçou e recebeu um grupo de brasileiros que moram em Moscou, entre eles vários jogadores de futebol. Wagner Love não foi, porque, segundo a Embaixada, o CSKA o impediu, por estar fora de forma. Mas lá estavam Dudu Cearense e Daniel Carvalho.

De volta ao Palácio do Kremlin, Lula e Marisa foram homenageados pelo casal Vladimir e Lyudmila Putin com um jantar. Não faltou o brinde com pequenos copos de vodka. Na cardápio, salada de frutos do mar, sopa de carneiro, frango defumado, truta e sorvete de sobremesa. A orquestra alternava músicas russas e brasileiras. Destaque para o sucesso da marchinha "Mamãe eu quero', a mais aplaudida da noite. Pouco antes das 22h, Lula embarcou de volta ao Brasil.