Título: Mercado interno amplia empregos
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

A indústria que produz itens para o mercado doméstico, como alimentos, bebidas e eletrônicos, está disposta a ampliar as contratações no último trimestre, de olho na recuperação do emprego e da renda. Entre outubro e dezembro, 24% das companhias que integram a indústria de transformação pretendem contratar, ante 16% que planejam demitir, segundo prévia da 157ª Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A diferença de 8 pontos porcentuais entre as empresas que querem admitir e as que vão cortar pessoal é o terceiro melhor resultado para o último trimestre desde 1998. Em relação ao terceiro trimestre, o saldo do quarto trimestre corrigido pelas variações típicas para esta época do ano teve uma desaceleração moderada, pondera o coordenador do Núcleo de Bancos de Dados Especiais da FGV, Aloisio Campelo. Ele ressalta que o resultado ainda é favorável. ¿Apesar da desaceleração no ritmo de produção, a indústria não pensa em demitir. Pode até contratar mais em 2006, sinalizando um bom começo de ano.¿

A prévia da sondagem da FGV, feita com 417 empresas em todo o País com faturamento anual consolidado de R$ 179 bilhões em 2004, revela que o otimismo para contratações é sustentado por segmentos voltados principalmente para o mercado doméstico. Entre eles a indústria de bebidas, de alimentos, farmacêutica, química, de borracha, matérias plásticas e eletrônicos.

Já os setores com perspectivas desfavoráveis em relação ao emprego, segundo a sondagem, são aqueles em que o peso do comércio exterior é expressivo, como calçados, têxteis e automóveis, que estão sentindo os impactos da valorização do real em relação ao dólar. No segmento de eletrônicos, a Philips, uma das maiores fabricantes de televisores do País, acaba de contratar 300 pessoas para uma nova linha de montagem para TVs de plasma e com monitor de cristal líquido (LCD) na fábrica de Manaus, conta o vice-presidente de Eletrônicos de Consumo da empresa, José Fuentes. ¿Estamos contratando todos os meses¿, diz José Roberto Campos, vice-presidente da Samsung. A empresa, com 1,3 mil funcionários, fechou 2004 com cerca de mil e está animada com o mercado. ¿Nossa meta era ampliar exportações, mas estamos vendendo mais no mercado doméstico.¿ As exportações da Samsung variam entre 10% e 15% do faturamento.

A Rio de Janeiro Refrescos, a segunda maior fabricante de Coca-Cola do País, contratou 100 trabalhadores para a área industrial da fábrica de Jacarepaguá (RJ), entre auxiliares e operadores, com piso salarial de R$ 500 e R$ 700, respectivamente. Segundo o gerente de Gestão de Pessoas da empresa, Paulo Pagliaroni, as contratações atendem ao crescimento das vendas de 15% no primeiro semestre deste ano em relação a 2004. No setor de alimentos, ocorre uma troca, diz o assessor econômico da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Amilcar Lacerda de Almeida. Enquanto as empresas exportadoras demitem, as voltadas para o mercado doméstico contratam. No trimestre de julho a setembro, o nível de emprego do setor recuou 0,80% com a eliminação de 80 mil postos de trabalho. Para este trimestre, ele prevê crescimento entre 0,5% e 1%, com até 100 mil novas vagas. O ano deverá fechar com expansão de 4% a 4,5% de expansão, acréscimo superior ao ritmo de alta da produção.

CARTEIRA ASSINADA

Depois de anos no mercado informal, Fabiano Valle de Oliveira, de 27 anos, e Jeferson Ney Vasconcelos Damasceno, de 32 anos, voltaram a ter carteira assinada no mês passado por causa das vagas abertas na indústria. Ambos trabalham na linha de montagem de TVs de plasma e cristal líquido (LCD) na fábrica da Philips em Manaus. ¿Minha vida melhorou 100% desde que saí da informalidade¿, diz Oliveira. Antes de voltar para a indústria, ele trabalhou um ano por conta própria. ¿Quando se trabalha por conta própria, um dia as coisas são boas, no outro, não. É um sofrimento muito grande.¿ Já o seu colega Damasceno fez faculdade de Direito, mas só estagiou na área. Antes de entrar na indústria, trabalhou por três anos informalmente, dando aulas de reforço para o 1º grau. ¿É a primeira vez que trabalho numa indústria eletroeletrônica. É uma experiência nova¿, diz Damasceno, que chegou a fazer cadastro para emprego em 15 empresas.