Título: Linha branca quer sair do comum
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2005, Economia & Negócios, p. B3

Imagine um refrigerador com mais de 4,9 mil cristais Swarovski importados da Áustria incrustados na parte frontal, reinando absoluto na sua cozinha. É assim que a coreana LG quer diferenciar seus produtos de linha branca para escapar do lugar comum de uma simples commodity. Segundo o diretor de Produto de Linha Branca da LG do Brasil, Roberto Yi, o refrigerador vai custar na Coréia US$ 3,5 mil e esse item não está disponível no Brasil, por enquanto, onde sairia por US$ 6 mil. ¿Mas já existem lojas brasileiras interessadas em ter essa geladeira na vitrine¿, diz Yi.

Certamente esses varejistas querem buscar produtos desse tipo com objetivo de criar atrativos para o consumidor e espantar o baixo astral que predomina no mercado de linha branca, que reúne fogões, geladeiras e máquinas de lavar.

As vendas industriais, que fecharam o primeiro semestre com crescimento de 28% na comparação com o mesmo período de 2004, já acumulam queda de 3% na comparação anual até setembro. Os negócios caíram no terceiro trimestre.

Só em setembro, as vendas, da indústria para o comércio, de fogões, geladeiras e máquinas de lavar despencaram ante agosto 25%, 15% e 15%, respectivamente. Empresas já deram férias coletivas mais de uma vez este ano para ajustar a produção à demanda. Há consultores que dizem que a indústria de linha branca perdeu o foco para concorrer com o apelo de consumo dos televisores gigantes e dos aparelhos de DVD.

¿O mercado virou em julho, agosto e setembro¿, diz o vice-presidente Financeiro da BSH Continental, Peter Haendel. No primeiro semestre, o desempenho havia sido bom e o mercado crescia de 3% a 4% ante o mesmo período do ano passado. Por causa do fraco desempenho do terceiro trimestre, as vendas acumuladas no ano até setembro já estão negativas entre 3% e 4% na comparação anual. ¿Estamos com perspectivas mais otimistas para este trimestre por causa do fim do ano.¿

De toda forma, em 2005 a empresa já deu duas vezes férias coletivas. ¿O normal é não dar¿, diz Haendel. Mas a medida foi suficiente para ajustar os estoques. Ele acredita que vai conseguir repetir neste ano os volumes vendidos em 2004.

A Multibrás, dona das marcas Brastemp e Consul, também projeta fechar o ano repetindo os volumes vendidos em 2004. O diretor de Vendas e Marketing da empresa, José Aurélio Drummond Jr., pondera que o faturamento vai crescer em reais e em dólares porque a companhia conseguiu repassar aumentos de custos para os preços, tanto nas vendas domésticas como nas exportações. Ele conta que a Multibrás saiu de alguns mercados onde não era competitiva. ¿Aumentamos os preços em dólar e perdemos em volumes¿, diz Haendel, da BSH Continental. Diante do enfraquecimento do mercado interno, ele conta que a política da empresa era reforçar as exportações. Com o dólar cotado na faixa de R$ 2,20, perdeu-se rentabilidade. ¿Estamos sofrendo com o câmbio e, se ele não mudar, teremos prejuízo na exportação.¿

EMOÇÃO

Além das pressões de custos do aço e dos plásticos, que reduziram as margens dos fabricantes da linha branca no início deste ano, o vice-presidente da BSH Continental diz que fica difícil concorrer com produtos como telefone celular, aparelho de DVD e TV de tela plana. ¿A troca de um eletrodoméstico tem menos emoção¿, admite. Foi em busca de oferecer algo mais, não exatamente emoção, mas saúde, que a Samsung lançou na semana passada no País a linha de geladeiras e máquinas de lavar diferenciada. Ela elimina as bactérias de roupas e de alimentos , usando as propriedades das partículas de prata. Um dos refrigeradores sai por cerca de R$ 15 mil.