Título: Focos em Mato Grosso do Sul e Paraná mudam geografia da doença no País
Autor: Fábio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

Os surtos de aftosa em Mato Grosso do Sul e as suspeitas no Paraná devem mudar a geografia da doença no Brasil. A emergência sanitária neste momento tem efeitos de um golpe no Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. Antes destes dois eventos, 15 Estados tinham a condição de ¿zona livre de aftosa com vacinação¿. Se olhada no mapa, é quase como se o programa tivesse traçado uma reta para dividir a nação. De Sergipe, passando por Bahia, cruzando por Tocantins, invadindo a reta que divide Mato Grosso do Pará e Amazonas, até Rondônia, a vacinação foi eficaz para controlar as sete cepas de vírus da aftosa. Desta linha imaginária para o Sul do País, estava a pecuária exportadora, robusta, com reconhecimento internacional. A ameaça do Paraná, por exemplo, deve colocar o governo catarinense em alerta máximo. O Estado é o único da federação a ter a condição de área livre de aftosa ¿sem vacinação¿, uma condição que Mato Grosso do Sul se preparava para ter.

Dias antes da descoberta do vírus na Fazenda Vezozzo, em Eldorado, o governo do Estado publicou um decreto em que começava a reduzir o número de vacinações do plantel de 25 milhões de cabeças de três para duas por ano.

O reconhecimento de Santa Catarina como área livre sem vacinação é dado apenas pelo Brasil, mas é dos catarinenses esse único título nacional. Os focos suspeitos no Paraná, que recebeu e comercializou gado que circulou em Eldorado (MS), são uma ameaça real.

O combate à aftosa é uma guerra. Os técnicos dizem que a razão está no alto poder de propagação do vírus. No caso de Mato Grosso do Sul, segundo o Laboratório Nacional Agropecuário, (Lanagro) de Belém do Pará, o tipo de vírus foi o O, comum na América do Sul. Em parte das Regiões Norte e Nordeste, há a chamada zona tampão, cuja finalidade é proteger os rebanhos abaixo da linha das áreas onde o vírus ainda circula.

João Cavalléro, presidente da Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro), admite que as regras implacáveis do mercado internacional exigem do Brasil, líder mundial no mercado de carnes, ação exemplar. E é isso que a Iagro tenta fazer desde que surgiu o primeiro foco na Fazenda Vezozzo, onde foram abatidos 582 animais. A depuração do rebanho segue em ritmo mais lento que o previsto, em parte pelas resistência dos pequenos produtores e pelas dúvidas sobre o pagamento de indenizações.