Título: Maioria das emendas vai para o time do mensalão
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2005, Nacional, p. A5

Os partidos do mensalão continuam sendo os mais beneficiados pela liberação de verbas federais para emendas parlamentares. Desde o início do ano, os quatro principais partidos suspeitos de envolvimento no esquema de propinas - PT, PL, PP e PTB - foram contemplados com 53% dos recursos empenhados pelo governo para as pequenas obras e gastos paroquiais previstos nas emendas. No último mês e meio, os deputados e senadores desses partidos chegaram a receber R$ 66,7 milhões - quase o dobro dos valores liberados entre janeiro e agosto. Contando PMDB, PSB e PC do B, a fatia de recursos que coube à base governista no Congresso chega a 77%. Em valores absolutos, PT é o mais beneficiado, com R$ 38,7 milhões de R$ 194 milhões empenhados, mas em comparação ao tamanho da bancada campeão é o PP do deputado José Janene (SP), que enfrenta processo de cassação.

O empenho do recurso é o ponto de partida para a realização de obra e, mesmo que não seja concluída, serve para o parlamentar se promover em sua base. Em média, cada parlamentar do PP obteve neste ano R$ 507 mil para suas propostas orçamentárias. O valor é bem inferior ao que cada um tem direito (R$ 3,5 milhões), mas supera de longe o que parlamentares da oposição recebem.

Individualmente, os parlamentares do PP mais beneficiados com recursos de emendas foram Romel Anízio (MG), Vanderlei Assis (SP), Francisco Dornelles (RJ), Sandes Júnior (GO) e José Linhares (CE), todos com mais de R$ 1,5 milhão. Severino Cavalcanti aparece com R$ 1,1 milhão - liberados em setembro, em meio às denúncias que o levaram a renunciar à presidência da Câmara.

O segundo partido com maior porcentual de emendas atendidas é o PTB do ex-deputado Roberto Jefferson, com R$ 18 milhões, ou R$ 409 mil por cabeça. O próprio Jefferson é um dos mais beneficiados: foi agraciado com R$ 1,2 milhão.

Para o PL o governo liberou R$ 18 milhões e a lista é encabeçada por dois deputados que renunciaram: Carlos Rodrigues (RJ), com R$ 2 milhões, e Valdemar Costa Neto (SP). Em seguida vem Sandro Mabel (GO), que enfrenta processo de cassação.

No PT, a média de liberação por cabeça chega a R$ 383 mil, e a lista é liderada pelo senador Tião Viana (AC), com R$ 2,45 milhões. Em seguida, dois que figuram na lista de denunciados pela CPI dos Correios - João Paulo Cunha (SP), com R$ 1,4 milhão, e Paulo Rocha (PA), que já renunciou, com R$ 1 milhão -, além de Luiz Sérgio (RJ), responsável pela anulação de parte da reunião do Conselho de Ética na qual foi lido relatório pedindo cassação do deputado José Dirceu. Ele foi contemplado com R$ 1,1 milhão - R$ 790 mil recentemente.