Título: Solidariedade a Dirceu, o 'bode expiatório'
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2005, Nacional, p. A12

Indignada com o governo Lula, Ana Maria está solidária com José Dirceu e acompanha com pesar o momento em que a carreira política do amigo se encaminha para a guilhotina. "Escolheram Dirceu como bode expiatório. O próprio PT o jogou às feras. É um absurdo colocar toda a responsabilidade em cima dele, porque caixa 2 é uma prática que sempre existiu no Brasil e em todos os partidos", diz. Eles se reencontraram na cremação de Apolônio de Carvalho, militante comunista histórico e fundador do PT, morto no fim de setembro. Ana diz ter ficado com "enorme tristeza" por ele ter deixado o local do velório rapidamente por temor de causar constrangimentos aos militantes presentes ."Faço restrições às alianças políticas que ele fez, mas Dirceu é uma pessoa com história e é um cara sério. Tem de ser respeitado"

A trajetória dos dois tem muitos pontos em comum. Como integrante do Molipo, Dirceu também viveu clandestinamente no interior do Paraná, de abril de 1975 a agosto de 1979, com o nome falso de Carlos Henrique Gouveia de Mello. Com uma prótese no nariz, implantada durante uma cirurgia plástica feita em Cuba, ele se casou, na cidade de Cruzeiro do Oeste com Clara Becker. Os dois tiveram um filho, Zeca Dirceu, que é hoje o prefeito da cidade.

À diferença de José Roberto, o marido de Ana Maria, Clara Becker, a mulher de Carlos Henrique, nunca soube da real identidade de Dirceu. Apenas descobriu quem era quando veio a anistia política, em 1979. Dirceu largou o casamento e Cruzeiro do Oeste, voltou para Cuba, onde desfez a plástica, e entrou de novo no Brasil pelo aeroporto de Viracopos, em Campinas.

A frieza do comportamento de Dirceu lhe vale recriminações, mas Ana Maria não faz "julgamento moral" sobre a atitude do ex-ministro. "Se dependesse de mim, eu também nunca teria revelado a minha identidade para o José Roberto. Só quem viveu naquele época sabe o risco de vida que corríamos e como morríamos de medo de ser descobertos."