Título: Déficit zero é conseqüência natural, diz Meirelles
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que o déficit nominal zero deverá ser 'conseqüência natural' da meta de longo prazo do governo de reduzir o peso da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). 'O fundamental é a continuidade do que já está sendo feito, ou seja, a manutenção da atual política fiscal, monetária, de obtenção de um superávit primário que permita a redução da relação entre a dívida e o PIB', disse o executivo. 'Mas seria extremamente positivo que fossem aprovadas medidas que ofereçam mais segurança da melhora fiscal no longo prazo.' Segundo Meirelles, essas medidas, que estão sendo discutidas pela equipe econômica, seriam 'uma sinalização muito importante para os agentes econômicos'. Ele acrescentou que ´um déficit nominal de 2%, 1% ou zero seria uma conseqüência natural disso'. Indagado sobre o comportamento da dívida pública, que se tem mantido em torno de 51% do PIB, o presidente do BC disse que a tendência de longo prazo é de queda. 'A dívida pública, como qualquer indicador econômico em relação ao PIB, não tem comportamento linear', afirmou. 'Ela caiu mais de dez pontos porcentuais desde o pico de setembro de 2002, o que mostra que a estratégia do governo tem sido bem-sucedida. O importante é continuar na trajetória de compromisso fiscal do governo.' Ele também comentou o impacto dos juros elevados sobre a dívida pública. 'Não falo sobre comportamento dos juros no curto prazo, mas o Brasil tem tido uma tendência de queda de juros reais e, na medida em que o País continue melhorando seus fundamentos econômicos, deveremos ter a continuidade dessa tendência no longo prazo.' CÂMBIO Meirelles voltou a defender a política cambial do BC. 'Ela tem sido extremamente bemsucedida não só na absorção dos choques externos, mas também para gerar mais estabilidade', disse. 'Além disso, temos o efeito positivo na balança comercial, na conta corrente.' Ele reafirmou que o BC não tem meta para o câmbio, mas busca a ' composição das reservas' em moeda estrangeira. 'Esse objetivo obedece a algumas regras básicas, como não adicionar volatilidade desnecessária aos mercados', disse. 'Mas o Banco Central brasileiro, a exemplo de qualquer BC do mundo, se reserva o direito de fazer intervenções pontuais além do objetivo de composição de reservas, se julgar conveniente por razões de liquidez de mercados.' Meirelles considerou a indicação do novo presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, 'uma excelente notícia' para a economia mundial e o Brasil. 'Bernanke, além da enorme capacidade intelectual, tem um compromisso com a estratégia de política monetária promovida por Alan Greenspan', disse Meirelles. 'Um compromisso com a estabilidade de preços e de aperfeiçoamento dos mercados, o que beneficia a economia global e o Brasil.' Para Meirelles, que participa, na capital espanhola, de um seminário sobre mercados emergentes promovido pelo Banco Mundial, a política monetária norte-americana não deverá ser alterada. 'Tudo indica que teremos continuidade', observou.