Título: Palocci diz que deu os R$ 90 milhões
Autor: Nicola Pamplona e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2005, Economia & Negócios, p. B7

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem que liberou toda a verba de R$ 90 milhões pedida no início do ano pelo Ministério da Agricultura para o combate de pragas e doenças como a febre aftosa. "Muitas vezes o ministério (da Fazenda) nega recursos, mas nesse caso o próprio ministro (Roberto Rodrigues, da Agricultura) reconhece que isso não ocorreu", garantiu. Palocci se defendeu das acusações de que a falta de verbas para o Ministério da Agricultura estaria prejudicando a defesa animal e vegetal, tese encampada até por Rodrigues, antes mesmo de aparecerem os primeiros focos de aftosa. "É lógico que estou frustrado por ter uma crise monumental como essa e não conseguir resolvê-la. É lógico que sinto ter chegado ao ministério nesse momento e é lógico que não estou feliz", reclamou, referindo-se ao ano agrícola ruim que o País deve registrar. Na época, a verba que a defesa sanitária deveria receber em todo o País era de R$ 167 milhões, mas Rodrigues conseguiu garantir, depois de muito brigar, apenas R$ 90 milhões, dos quais R$ 55 milhões especificamente para a defesa animal. Se dependesse da área econômica, as verbas seriam de R$ 37 milhões.

"Não dá para sair distribuindo culpa sem saber o que aconteceu", disse Palocci. Segundo ele, só com o resultado das investigações será possível tomar medidas que evitem a repetição da crise no futuro. "Há muitas questões aí: o gado foi vacinado corretamente? As vacinas estão funcionando?" Exaltado, o ministro da Fazenda ressaltou que não vai afrouxar a política fiscal por causa de crises temporárias. "Não vou ser sensível àqueles que usam estes momentos para propor uma volta a modelos antigos. Não vou me dobrar a isso."

METAS

Palocci confirmou as discussões para a criação de metas fiscais de longo prazo para o País, segundo as quais o governo fixaria limites de gastos e carga tributária para os próximos 10 ou 15 anos. A idéia é mostrar ao mercado que o compromisso com o equilíbrio fiscal não se restringe ao governo atual. Os Ministérios da Fazenda e do Planejamento iniciam esta semana conversas com setores variados da sociedade para elaborar uma proposta nesse sentido.

"Quando se olha os gastos no Brasil, vê-se que, há muitos anos, eles têm sido elevados, de maneira insatisfatória", reconheceu o ministro. Para ele, uma redução de gastos pode resultar em sobra de recursos para investimentos em infra-estrutura e ampliação da poupança interna, além de aumentar a margem para redução da carga tributária. Um "quadro fiscal consistente", acrescentou, pode contribuir, no longo prazo, para a redução dos juros no País. "O problema dos juros não é só do Banco Central, que tem feito um trabalho extraordinário. O nível de juros é dado por um conjunto de fatores."