Título: Empresas buscam ajuda para contratar deficientes
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2005, Economia & Negócios, p. B16

As dificuldades que as empresas enfrentam quando precisam contratar deficientes físicos e cumprir a lei de cotas está gerando um novo nicho de mercado, o das consultorias e organizações sem fins lucrativos especializadas em treinar e inserir esses trabalhadores no ambiente de trabalho. Apesar da alegação das empresas de que falta qualificação por parte dos portadores de deficiências, o outro lado também é verdadeiro: as empresas não sabem como incluir os trabalhadores deficientes, daí o florescimento desses serviços. A Lei 8.213/91, regulamentada em 1999, obriga as empresas a contratar de 2% a 5% de deficientes físicos para seus quadros. O aumento da fiscalização, tanto por parte das Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs) quanto pelo Ministério Público, coloca as empresas contra a parede e expõe as diferentes faces do problema, como a falta de ambientes adaptados para receber os deficientes.

Mas dados da DRT-SP mostram um crescimento vertiginoso das contratações de deficientes no Estado. Em 2001, 601 pessoas com deficiência foram empregadas por 12 companhias. Já no primeiro semestre deste ano foram 28.815 pessoas contratadas por 3.525 empresas.

"A lei de cotas tem sido importante neste primeiro momento, mas as empresas precisam perceber que há benefícios em contratar deficientes", afirma Andrea Schwarz, sócia-diretora da I.Social, empresa do grupo Farah Service que, entre outros serviços, presta assessoria sobre a inclusão de pessoas deficientes. Na prática, a I.Social avalia as condições de acessibilidade da empresa - se ela tem estrutura física para receber esses trabalhadores -, mapeia os cargos e funções em que eles podem se empregar, e ajuda a preparar os demais funcionários para conviver com os novos.

A empresa tem ajudado o grupo varejista Pão de Açúcar na adaptação da estrutura física das lojas para receber clientes com deficiência e também na contratação de funcionários com esse perfil, que hoje ultrapassam 500. Com a Atento, empresa de serviços em call center, a I.Social está estruturando um programa de capacitação para primeiro emprego, voltado a jovens com deficiências. As empresas aéreas TAM e Gol também são clientes.

"Há ganhos no clima interno da empresa e também em competitividade, pois o consumidor está atento às políticas de responsabilidade social das empresas", diz Andrea, que é tetraplégica e co-autora do "Guia São Paulo Adaptada", que lista as condições de acesso para deficientes de vários estabelecimentos comerciais da capital paulista.

TERCEIRO SETOR

As organizações não-governamentais também vêm se especializando em fazer a ponte entre trabalhadores deficientes e empresas. A Avape - Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais -, entidade sem fins lucrativos que presta assistência a pessoas com variados graus de deficiência física e mental, também tem assessorado empresas no trato com o profissional deficiente. A entidade, que tem 23 anos de atuação, tem programas de empregabilidade que ministram cursos para pessoas deficientes de baixa renda. Informática, atendimento a clientes. empreendedorismo e gestão de pequenos negócios são alguns dos assuntos abordados pela entidade, que mantém ainda um banco de currículos.

"A estratégia é focar no potencial de trabalho dessas pessoas, e não nas deficiências", diz o presidente da Avape, Marcos Gonçalves. A entidade trouxe especialistas em inclusão social de diversos países para um congresso em São Paulo, que termina hoje.

O Instituto Paradigma faz um trabalho semelhante de inclusão econômica de deficientes, e tem como clientes Santander, Visa Net, Grupo Orsa e Schering do Brasil. "Via de regra, são as grandes empresas que conseguem cumprir as cotas, pois possuem mais recursos para investir em acessibilidade e programas de capacitação", diz Flávia Cintra, coordenadora do programa de inclusão econômica do Instituto Paradigma.

Além do trabalho de consultoria junto às empresas, o instituto montou um banco de currículos na internet, aberto a consultas para empresas e onde profissionais com deficiência podem se cadastrar.

A ferramenta é fruto de uma parceria entre a ONG e a Profit, empresa de software, e era uma demanda recorrente dos clientes corporativos do Instituto Paradigma. "Estamos fazendo ajustes e engordando o banco de dados, mas a partir de dezembro o serviço estará disponível para as empresas", diz Flávia.