Título: Cheque de Valério tira Azeredo do comando do PSDB
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2005, Nacional, p. A9

Incluído na lista dos acusados de receber dinheiro do publicitário Marcos Valério, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) foi forçado a deixar a presidência do PSDB ontem. Bastaram 72 horas, a partir do aparecimento do cheque de R$ 700 mil de Valério, usado para quitar dívidas da campanha - mal sucedida - de reeleição de Azeredo ao governo de Minas, em 1998, para que a cúpula tucana armasse a operação de despejo. Azeredo anunciou a saída da tribuna do Senado à noite, a 23 dias do fim de seu mandato no posto. O PSDB fará convenção nacional em 18 de novembro para eleger o senador Tasso Jereissati (CE) seu presidente.

"Há muito o titular da presidência do PSDB, prefeito José Serra, havia manifestado o desejo de pessoalmente transmiti-la a seu sucessor", discursou ele, ao anunciar que deixava o posto para "defender-se livremente" das acusações. "Fui escolhido como alvo por ser presidente do PSDB", completou, ao denunciar uma "operação despiste" de focalizar os esquemas de caixa 2 como delito maior.

O script da renúncia foi montado nas duas horas de reunião que Azeredo teve com Tasso e o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM) de manhã. Além da simbologia da unidade, com Serra passando a faixa a Tasso, o PSDB queria partir para a ofensiva, propondo a CPI exclusiva sobre caixa 2 de campanha. Na reunião, Tasso não deixou dúvidas de que a saída imediata era um imperativo. E Azeredo, que já chegara abatido ao gabinete do sucessor, não resistiu.

No discurso, Azeredo repetiu que não sabia nem autorizou empréstimo para cobrir gastos de campanha. Exigiu coerência dos que o denunciam, cobrando o fato de lhe atirarem pedras, "brandindo o mesmo argumento", o do desconhecimento, em defesa de Lula. "Eu respeito o presidente Lula por sua história de vida, como trabalhador que chegou à Presidência, mas ele fez vista grossa para o maior escândalo já registrado na política brasileira", acusou.

"Não há como confundir os fatos ocorridos em Minas com a prática introduzida pelo PT, sob o comando da Casa Civil, de arrecadação de fundos de origem inexplicável para garantir esquema de compra de votos no Congresso, tráfico de influência, desvios de recursos e achaques a empresários", disse. "Não permitirei que usem meu nome para encobrir a corrupção do governo."

Ele propôs a investigação de todas as campanhas eleitorais, inclusive as do presidente Lula, "para verificar se custaram mesmo o que declararam". O senador declarou à Justiça Eleitoral que sua campanha de 1998 custou R$ 8,5 milhões. "Alguém tem dúvidas de que a quase totalidade das campanhas de nossos adversários custaram muito mais do que o declarado?", indagou Azeredo, citando a campanha de Lula em 1998, que teve despesa declarada de R$ 3 milhões.

TELEFONE: Bem que o coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner, tentou acalmar os ânimos do tucanato. Em vão. Wagner telefonou ao senador Eduardo Azeredo à tarde, para garantir que o Planalto não trabalhara contra ele na CPI dos Correios. "Não temos nada contra ninguém nem vamos perseguir ninguém. Nossos partidos são primos", afirmou.

Nesse momento, o líder Arthur Virgílio tomou o telefone de Azeredo e entrou na conversa: "São primos como árabes e israelenses. Não tem problema nenhum primo guerrear." Ele avisou que o PSDB faria obstrução a todos os projetos de interesse do governo.