Título: No governo se ganha pouco e CPI fica no pé, queixa-se Lula
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2005, Nacional, p. A10

Ao criticar o desmonte da máquina do Estado desde 1990 e usar isso para tentar justificar problemas em vários setores de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que uma pessoa só vai trabalhar no governo "se for muito comprometida ideologicamente". Afirmou que um ministro ganha R$ 8 mil e nas empresas privadas o salário é muito mais alto. "Para você convencer um técnico a vir trabalhar no governo para ganhar R$ 5 mil, só se a pessoa for muito, muito comprometida ideologicamente. Senão, não vem e todo mundo sabe", disse. "Um grande técnico vai trabalhar na empresa privada para ganhar R$ 15 mil, R$ 20 mil, ainda tem despesa com gasolina paga, com restaurante, e não tem Ministério Público atrás dele, não tem CPI atrás dele. Não tem nada disso."

As afirmações foram feitas em discurso de improviso na abertura do 19º Congresso Brasileiro de Avicultura, no Itamaraty, depois de ouvir o presidente da União Brasileira de Avicultura, Zoé Silveira d'Ávila, que cobrou do governo recursos para o agronegócio e contratação de pessoal e chamou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de pão duro. "Vou ser bem franco, não votei no senhor", disse D'Ávila, criticando as "muitas mudanças nos escalões inferiores" e pedindo que as áreas técnicas do Ministério da Agricultura voltassem a ser ocupadas por técnicos. Uma das críticas a este governo é que o PT pôs militantes em todos os escalões.

Lula respondeu dizendo que Roberto Rodrigues (Agricultura) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) "tiveram total liberdade de montar" suas pastas. "Rodrigues trouxe e mandou embora quem quis." Ressalvou que "muitas vezes as pessoas não querem ficar". Comentou ainda que já fez vários concursos para reaparelhar o Estado, que este é "um compromisso, apesar da enxurrada de editoriais" acusando-o de inchar a máquina pública". Segundo ele, este governo "não fez como o passado, quando surgiu o problema da aftosa, e ficou discutindo de quem era a culpa".

O presidente também criticou a burocracia, alegando que ela "dá com uma mão e tira com a outra", e avisou que "o governo não pode tudo, porque tem muitas limitações". Para justificar, contou que ficou "nervoso" ao saber que R$ 3,5 milhões para Mato Grosso do Sul estava destinados, mas não liberados, porque faltava um projeto do governo do Estado, e nova reunião seria realizada para fechar o projeto, porque senão "o TCU vinha em cima".